10 de março de 2010

Monteiro Lobato: "Emília no país da Gramática - Entre os adjetivos"


Leia o fragmento “Entre os Adjetivos” retirado do livro de Monteiro Lobato “Emília no país da Gramática”.

Entre os adjetivos

 No bairro dos ADJETIVOS o aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiravam-se da novidade e o rinoceronte explicou:
- Os Adjetivos, coitados, não têm pernas; só podem movimentar-ser atrelados aos Substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os Nomes, os Adjetivos designam as qualidades dos Nomes.
Nesse momento os meninos viram o Nome Homem, que saía duma casa puxando um Adjetivo pela coleira.
- Ali vai um exemplo – disse Quindim. – Aquele Substantivo entrou naquela casa para pegar o Adjetivo Magro. O meio da gente indicar que um homem é magro consiste nisso – atrelar o Adjetivo Magro ao Substantivo que indica o Homem.
- Logo, Magro é um Adjetivo que qualifica o Substantivo – disse Pedrinho – porque indica a qualidade de ser magro.
- Qualidade ou defeito? – asneirou Emília. – Para Tia Nastácia ser magro é defeito gravíssimo.
- Não burrifique tanto, Emília! – ralhou Narizinho. – Deixe o rinoceronte falar.
O armazém dos Adjetivos era bem espaçoso e algumas prateleiras recobriam as paredes. Na prateleira dos qualificativos PÁTRIOS, Narizinho encontrou muitos conhecidos seus, entre os quais Brasileiro, Inglês, Chinês, Paulista (...) que só eram atrelados a seres ou coisas do Brasil, da Inglaterra, da China e de São Paulo (...).
Havia ali muito poucos Adjetivos daquela espécie. Mas as prateleiras dos que não eram Pátrios estavam atopetadinhas. Os meninos viram lá centenas, porque todas as coisas possuem qualidades e é preciso um qualificativo para cada qualidade das coisas. Viram lá Seguro, Rápido, Branco, Belo, Mole, Macio, Áspero, Gostoso, Implicante, Bonito, Amável, etc. – todos os que existem.
- E na sala vizinha? – perguntou o menino.
- Lá estão guardadas as LOCUÇÕES ADJETIVAS.
- Quem são essas Senhoras Locuções? Perguntou Emília.
- São expressões que equivalem a um adjetivo e são empregadas no lugar deles. Por exemplo, quando digo:
           - As palavras não param – observou Quindim. Tanto os homens quanto as mulheres (e sobretudo estas) passam a vida a falar, de modo que a trabalheira que os humanos dão às palavras é enorme.
             Nesse momento uma palavra passou por ali muito alvoroçada. Quindim indicou-a com o chifre, dizendo:
             - Reparem na talzinha. É o Substantivo Maria, que vem em busca de Adjetivos. Com certeza trata-se de algum namorado que está a escrever uma carta de amor a alguma Maria e necessita de bons Adjetivos para melhor lhe conquistar o coração.
               A palavra Maria achegou-se a uma prateleira e sacou fora o Adjetivo Bela; olhou-o bem e, como se o não achasse bastante, puxou fora a palavra Mais; e por fim puxou fora o Adjetivo Belíssima.
            - A palavra Mais forma o Comparativo, com o qual o namorado diz que essa Maria é Mais Bela que tal outra; e com o Adjetivo Belíssima ele dirá que Maria é extraordinariamente bela. E desse modo, para fazer uma cortesia à sua namorada, ele usa dois Graus do Adjetivo. Partindo da forma normal que é a palavra Bela, usa o Grau Comparativo, com a expressão Mais bela, e usa o Grau Superlativo, com a palavra Belíssima.
           - Mas nem sempre é assim – observou Emília. Lá no sítio, quando eu digo Mais Grande, Dona Benta grita logo: “Mais grande é cavalo.”

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A leitura é extremamente importante para desenvolver diversos aspectos pessoais e sociais. Modelo de Kelly Braga (Canvas)