7 de novembro de 2014

Atravessados pela diáspora

A maioria das pessoas veem sua casa - o lar - como um lugar seguro, no qual se reconhecem, reconhecem seus traços, seus pares e sua cultura. É no lugar de pertença que tecemos laços de parentesco, de amizades... De relações sociais.
No entanto, alguns alçam voo deste lar, deste porto seguro em busca de realização, de construir um novo lar.
Ao estabelecer-se em um novo lugar, perde-se a pertença à terra natal. Esta passa a habitar somente os pensamentos, a fazer parte do imaginário. Pensamentos que ainda pensam que o retorno à terra natal será acolhedor, será igual ao que fora no passado.
Ao abandonar a terra natal passamos a ocupar um entre-lugar. Mantemos os vínculos afetivos relacionados ao local. No entanto, passamos a nos constituir como sujeitos agentes em um novo lugar. Somos transformados pela diáspora.
E nesse momento que vamos perdendo o sentimento de pertença.
Não somos mais cidadãs da terra natal, tampouco não somos mais bem vindas a ela. O "lar" torna-se quase um ambiente hostil, não o reconhecemos mais como o nosso lugar. Fomos atravessados pelas forças da diáspora. O lugar não mudou, nós mudamos, fomos (re)transformados em um novo sujeito com dupla pertença, com dupla identidade, com dupla personalidade e com dupla cidadania.
No novo lugar somos "os vindos de fora", aqueles que precisam provar seu valor, mostrar-se fortes, mostrar-se merecedores de confiança, cavar um lugar, tomar o lugar destinado a quem é do local. Somos os forasteiros, os usurpadores...
A terra natal não nos reconhece mais como filhos, somos os fugitivos, os desertores, passamos a não mais merecer a confiança das pessoas, somos vistos como estrangeiros. Perdemos a referência, perdemos os amigos, perdemos nossa história, perdemos nosso lugar - ele continua vago, mas não temos mais o direito de ocupá-lo. Passamos a viver em uma terra natal idealizada, que (sobre)vive de memórias, de lembranças, as quais nos agarramos para mantermos nossa história (mesmo que imaginada).
E a pergunta que fica: Somos quem afinal? Pertencemos a qual lugar? Não ocupamos mais um ente-lugar. Não pertencemos a nenhum dos dois mundos, mas ao mesmo tempo pertencemos aos dois. Estamos em um não-lugar. Somos seres atravessados pela diáspora e nesse trânsito nos perdemos.
Meu lar, como diriam alguns "é aquilo que posso carregar"... "O corpo é o meu lar". "Sou uma cidadã do mundo".

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