Via-Design - Ação de Extensão para a Universidade, de Inclusão para o Artesanato e de
Expansão para o Designer
Área Temática de Tecnologia
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar o Projeto de Extensão Via Design através do Núcleo
de Inovação em Design – Artesanato implantado na Universidade do Estado de Santa Catarina
– UDESC em parceria com o SEBRAE. O projeto tem como meta apoiar ações de design na
área de Artesanato Catarinense de modo a estabelecer um plano de desenvolvimento do
artesanato catarinense, tomando o Design como ferramenta de melhoria e diferenciação no
mercado, proporcionando aos pólos de produção melhores condições de trabalho, emprego e
renda. A abrangência do projeto é todo o estado de Santa Catarina e os núcleos produtivos ou
associações constituídas envolvendo atividades artesanais. Inicialmente três oficinas já estão
estabelecidas nos municípios de Armazém, São José e Araranguá nas áreas de produtos
coloniais, cerâmica e têxteis. O Núcleo de Inovação em Design – Artesanato irá apoiar as
diferentes oficinas em estudos de mercado, prospecção de produtos, desenvolvimento de
produtos, protótipos e estudo de formas de distribuição e comercialização. Além de beneficiar
a comunidade externa com todo um saber fazer aprendido e pesquisado dentro da
Universidade, este projeto permite vivenciar uma ampliação de universos na atuação do
design enquanto profissão responsável e engajada no desenvolvimento de cultura e identidade
brasileira.
Autoras
Silvana Bernardes Rosa, Drª - Centro de Artes, UDESC
Suzana Back, Designer - Núcleo de Inovação em Design - Artesanato
Instituição
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Palavras-chave: design; artesanato; inovação
Introdução e objetivo
O artesanato é uma manifestação popular onde a criação de objetos utilitários é
manual, feitos um a um, sem o auxilio de máquinas ou equipamentos que possam levar a uma
padronização. As formas de artesanato se repetem pois a técnica é passada de pai para filho,
de geração em geração. Estas formas pouco a pouco são absorvidas pelo povo, se espalhando
por todas as partes do país, principalmente nas áreas pobres e abundantes em matéria-prima.
O artesanato brasileiro é muito mais do que tudo isso. O artesanato brasileiro traduz em sua
arte, às vezes com uma espontaneidade ingênua, mas rica e vibrante, suas crenças e tradições
expressando de forma marcante a criatividade e ousadia da arte popular brasileira.
(Artemanhas,2003).
A condição do artesanato no Brasil requer um olhar mais atento. Toda história do
artesanato vem sendo contada de pai para filho, através das habilidosas mãos do artesão que
transmite sua técnica, sua profissão, seu legado. A atividade artesanal, por conceito, enquadrase
no contexto sócio-econômico além de ser relevante como expressão cultural e de
preservação de tradições populares. No entanto, o que se observa aos poucos é o rompimento desta corrente gerando a subutilização dos seus produtos e a vulnerabilidade da atividade.
(BACK & CABRAL, 2004)
A indústria surge como principal fator de decadência da produção de diversos tipos de
artesanato. Sua produção é infinitamente maior e conseqüentemente mais barata. O que não se
pode comparar aqui é o valor simbólico que cada um destes produtos têm: o artesanato é um
produto cultural e carrega significados.
Por outro lado, a produção industrial se beneficia das dificuldades da produção
artesanal. Obviamente a produção é pequena. Não existe uma padronização dos processos e
muito menos a organização das atividades. Este artesanato é entendido como atividade
complementar da receita da família e, portanto, não constrói uma estrutura de produção.
Porém, existe a possibilidade de potencializar as qualidades deste produto,
identificando oportunidades de bons negócios, transformando assim este artesanato em uma
receita real para os artesãos, deixando de ser apenas uma atividade alternativa. Verifica-se
então, a necessidade de um resgate desta arte, abrindo caminhos para uma maior valorização
do artesanato e do artesão.
Este projeto de extensão representa uma parceria entre a Universidade do Estado de
Santa Catarina – UDESC e o SEBRAE visando contemplar um setor que normalmente se vê
distanciado de iniciativas de incentivo econômico devido a sua predominante informalidade.
Oportunidade de bons negócios
Segundo Pannunzio (1982:17), apesar de fornecer suporte financeiro a muitos
artesãos, servindo igualmente para outros como complemento da receita familiar, a atividade
artesanal no Brasil tem sido conduzida empiricamente pela falta de adequadas estruturas de
produção e comercialização, adaptadas à realidade nacional.
Uma ferramenta que vem favorecer o desenvolvimento da atividade artesanal é o
design. Redig (1977:32) define design como “o equacionamento simultâneo de fatores
ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos, no projeto
dos elementos e estruturas físicas necessárias à vida, ao bem estar, e/ou à cultura do homem.”
Mas, o design pontual, aquele que está inserido apenas em partes do processo, não resolve os
problemas encontrados na atividade. Não basta um produto artesanal que tenha design ou uma
identidade visual. Para que o design torne a atividade artesanal competitiva no mercado e
assim, torne-se bem sucedida é preciso que este esteja inserido como um todo na atividade
através de uma cultura de Gestão do Design. Enfim, é preciso que o design esteja atuando em
todo o processo e não apenas em partes deste, já que ao atuar pontualmente o design não
solucionará os problemas da atividade artesanal. É preciso que uma gestão do design seja
desenvolvida na atividade artesanal para que esta seja estruturada de forma a competir no
mercado trazendo para os artesãos a garantia do sustento de sua família e não apenas um
complemento no orçamento familiar.
Sabe-se que a atividade artesanal difere, e muito, das empresas com certo nível de
desenvolvimento industrial. Enquanto os produtos industrializados são produzidos em grande
escala, os produtos artesanais são desenvolvidos um a um com suas particularidades e
trazendo para cada produto um valor simbólico agregado. Cabe ressaltar então, que o
comportamento dos produtos industrializados é bastante diferente dos artesanais.
Ressalta-se, então, a importância de toda e qualquer atividade basear suas estruturas na
gestão do design que tem a função de planejar e coordenar as estratégias correspondentes aos
objetivos e valores da empresa, motivar empregados e controlar os trabalhos, assegurando que
cumpram com os objetivos, com os prazos e custos planejados.
A Gestão do Design pode ajudar as empresas a criar seus objetivos, baseados em seus
conhecimentos, capacidades e meios de produção, relacionado ao seu grupo de consumidores,
assim como desenvolver uma estratégia própria para encontrar o seu nicho e finalmente
atingir seus objetivos com sucesso no mercado. (WOLF, 1998:18) O papel da universidade e da ação de extensão
Este universo do artesão, sua condições de produção, seu perfil sócio-econômico e as
condicionantes externas a que ele está sujeito são abordados no projeto de extensão Via
Design com dupla função. A primeira cumprindo seu papel social de estender a atuação da
universidade para além de seus limites acadêmicos, levando seu conhecimento e mesmo o
processo de formação para uma situação real e concreta, otimizando a aplicabilidade de seu
resultado de ensino e de pesquisa. A segunda ampliando os horizontes de atuação de uma
profissão que corre o risco de se ver direcionada a uma elite, se não por um consumo de alto
nível econômico ou por um mercado de alta tecnologia, por uma visão estreita de sua área de
atuação. A primeira discussão que se vê aberta é a da oposição entre indústria e artesanato que
pode limitar, em um primeiro olhar, a atuação do design neste setor produtivo. Quanto a este
aspecto já foi apontada, neste trabalho, a importância da Gestão do Design para o setor
artesanal e para toda e qualquer iniciativa que tenha o planejamento como ferramenta de
suporte, de previsão, de minimização de erros e otimização de acertos. A segunda seria a da
preservação em um setor carregado de manifestações culturais e de traços característicos de
comunidades.
Neste sentido se percebe que a identificação do principal conteúdo da atividade
artesanal está na técnica e na matéria-prima que por ele é empregada. Ambas caracterizando
uma cultura e uma comunidade. No entanto, para o sucesso de uma empreitada em termos de
emprego e renda, os requisitos de valor cultural e de identidade não são suficientes para a
sobrevivência.
O desenvolvimento de produto e a comercialização dos mesmos assumem um papel de
gargalo, de limitante do sucesso desta e de qualquer outra iniciativa que pretenda subsistir em
um mercado de consumo. Assim se destaca o papel desta ação de extensão como ampliador
dos horizontes de atuação da profissão do design, não como interventor mas como ferramenta
de preservação de valores culturais, de identidade e de subsistência de um setor produtivo cuja
participação em termos de volume de negócios é significativa para o Produto Interno Bruto do
país.
Objetivos do projeto
Tendo iniciado suas atividades em novembro de 2003, quando o convênio foi firmado,
o Núcleo de Inovação em Design – Artesanato tem como objetivo estabelecer um plano de
desenvolvimento do artesanato catarinense, tomando o Design como ferramenta de melhoria e
diferenciação no mercado, proporcionando aos pólos de produção melhores condições de
trabalho, emprego e renda. A abrangência é de todo o estado de Santa Catarina, em ações
pontuais, e através de ações sistemáticas em três municípios pólos de produção artesanal onde
grupos de artesãos buscam a profissionalização.
Metodologia
A forma de atuação junto às comunidades de artesãos prevê diversas abordagens,
desde o apoio a grupos constituídos até o incentivo à organização e associação de alguns
deles. Em ambos os casos, pretende-se fomentar o artesanato valorizando o saber-fazer do
artesão, transformando-o numa possibilidade econômica, através do resgate da sua identidade
e autenticidade, da melhoria da qualidade e diversidade dos produtos e da divulgação de sua
arte. Serão implementadas ações associativas de forma a gerar a possibilidade da ação
coletiva, através da formação de associações e cooperativas de artesãos, objetivando seu
desenvolvimento e capacitação. As ações iniciais permitirão traçar um plano para a
capacitação de recursos humanos de forma a contribuir para o desenvolvimento sócioeconômico
do Estado de Santa Catarina através da transferência de conhecimentos e recursos
humanos especializados direcionados às especificidades locais. Mantendo o principio de ação de extensão, que contribui para o processo de formação
universitária, a Gestão de design é exercitada na forma de uma resposta dos acadêmicos e
docentes que atuam no projeto às necessidades da comunidade externa. A gestão permite
fazer do Design uma ferramenta de melhoria dos processos e produtos da cadeia produtiva,
melhorando as condições de trabalho do artesão e beneficiando as comunidades locais,
gerando emprego e renda. São desenvolvidos, na ação de extensão, projetos de Design de
Produto de modo a promover a melhoria da qualidade dos produtos de artesanato através de
monitoramento das etapas de produção, otimizando seus recursos e processos, tendo em vista
a melhor eficiência e a competitividades dos pólos de artesanato.
Mas somente os produtos adaptados ao público-alvo não são garantia de dignidade no
trabalho artesanal. Completando o ciclo de atuação em um setor produtivo, está sendo
elaborado e será implementado um plano de promoção do artesanato para criar meios para
esta atividade, ampliando seus mercados e sua demanda, através de materiais de promoção e
acompanhamento em feiras e exposições.
Finalmente a documentação e controle de dados, de processos e de métodos desta
iniciativa serão sistematizados em um processo de gestão de fluxo de informações onde será
criado um sistema de informação capaz de integrar as oficinas do núcleo, visando a
transferência da tecnologia gerada a partir de ações do design.
Resultados e discussão
Um recorte das atividades
Em seus primeiros seis meses de atuação o projeto iniciou atividades junto a inúmeros
grupos de artesanato em diferentes níveis de atuação e diferentes localidades de Santa
Catarina. Para este artigo foram escolhidas duas iniciativas visto a representatividade que elas
conferem ao projeto e os desdobramentos que se imagina atingir com elas.
Oficina de tecelagem – Toca Tapetes
A primeira é o grupo Toca Tapetes da comunidade de Sanga da Toca do município de
Araranguá. A Toca Tapetes é uma associação de artesãos composta por 11 membros que se
organizam em grupos de produção. Ao todo, são 59 pessoas dedicadas à arte de tapeçaria.
Esta associação, formalizada com o auxílio do SEBRAE/SC tem aumentado a sua produção
gradativamente, conquistando aos poucos, novos mercados. Porém, uma das grandes
dificuldades encontrada por esse grupo de artesãos e a escassez de matéria-prima, uma vez
que a produção dependente dos resíduos da indústria de confecções.
Desta forma, é necessário procurar novas alternativas de matéria-prima,
proporcionando uma melhoria da produção, maior diversidade dos produtos, possibilitando a
especificação de uma linha de produtos para a venda por encomenda. Além disso, é
necessário que a associação possa apresentar adequadamente os seus produtos, reforçando a
identidade e valores do grupo.
Já organizada na forma de empresa, e com controle contábil, as ações de extensão em
andamento para este grupo referem-se à pesquisa de matérias-primas de modo a diminuir ou
eliminar a dependência, hoje existente, de atravessadores de matéria prima. Da mesma forma
o desenvolvimento de novos produtos, com a intenção de atingir novos mercados também está
em andamento, assim como, a elaboração de catálogo de produtos para integrar um site de
vendas virtual. Pretende-se ampliar a visibilidade da iniciativa e a variedade de produtos para
atingir um mercado mais amplo. O site de vendas é uma iniciativa do projeto e foi escolhido
devido a alta penetração que é permitida pelo meio virtual aliado ao baixo custo de divulgação
e a exponencial abrangência que ele pode atingir.
Além disso, serão feitos investimentos em termos de equipamentos coletivos – uma
urdideira elétrica ira representar uma redução de 25% do tempo gasto pelas artesãs na
realimentação do tear para sua produção, podendo inclusive servir para membros externos à comunidade como uma forma de arrecadação para o grupo. Este investimento faz parte do
projeto e vai levar também à comunidade um equipamento completo de informática –
computador, modem, impressora – além de cursos de formação fazendo com que o controle
contábil, hoje feito de modo terceirizado, passe a ser domínio do próprio grupo.
O projeto será desenvolvido em dez etapas ocorrendo, algumas, paralelamente. Serão
levantados dados sobre o mercado e seus canais de venda para orientar o desenvolvimento de
novos produtos adequados às exigências dos consumidores. Isso dá à família de produtos
menores riscos na sua inserção no segmento específico. Para complementar seu lançamento, é
necessário traçar a estratégia de divulgação através de catálogos e mostruários voltados aos
lojistas; site informativo e de vendas, facilitando a comunicação com os clientes; embalagem
de proteção dos produtos e também com informações sobre tarefas de manutenção e
expositores adequados; ambientação do ponto de vendas; folders institucionais com
informações sobre o intuito da associação e, a padronização da marca gráfica permitindo
melhor identificação de imagem e dos valores da associação.
Todas as etapas do projeto são desenhadas e discutidas junto aos artesãos e somente
implementadas coletivamente. A receptividade do grupo é um fator facilitador do trabalho
tanto do SEBRAE, que vêm investindo a mais de um ano no processo de apoio, quanto para a
UDESC, que atua no mesmo através da extensão.
Oficina de Produtos Coloniais – Casa Familiar Rural
O Núcleo de Inovação em Design – Artesanato estabeleceu uma parceria com a Casa
Familiar Rural de Armazém. Esta é uma idéia que já está no Brasil desde 1981 e que veio para
os estados do sul em 1989, no Paraná. A Casa Familiar Rural - CFR é uma escola voltada para
o desenvolvimento da região, e oferece formação técnica, humana e gerencial aos jovens de
ambos os sexos do meio rural e pesqueiro, qualificando e proporcionando a esses jovens uma
evolução em conjunto com a família e a comunidade onde vivem. Em Armazém, a CFR
construída em 2002 iniciou suas atividades no dia 22 de março deste ano e conta com o apoio
das Prefeituras Municipais de Armazém, São Martinho e Gravatal e atende aos jovens destes
municípios. Conta também com o apoio da Epagri e com a UDESC através de seu projeto de
extensão.
Esta sendo implantada junto à Casa uma das Oficinas de Artesanato do Programa Via
Design do SEBRAE. Esta oficina irá proporcionar a formação para ações de artesanato não só
para os alunos, mas também suas famílias e comunidades. Para isso serão alocados na Casa
equipamentos de informática e um atelier para o trabalho artesanal. Além de ajudar a equipar
a Casa para permitir a exploração da atividade artesanal a idéia é oferecer conhecimento de
mercado, qualidade, identificando oportunidades através de artesanato e agroindústria. O
objetivo é auxiliar na construção de uma visão empreendedora, contribuindo para a
permanência no meio rural; dar condições para a melhoria da qualidade de vida; prepará-los
para o espírito associativo e, valorizar a cultura local. Com isso, a CFR de Armazém espera
aumentar a auto-estima dos jovens e de suas famílias, criar oportunidades de trabalho e renda
no próprio meio e a sua manutenção de forma empreendedora.
Serão várias as formas de atuação, mas aqui pretende-se destacar o processo de
acompanhamento, feito pelo projeto Via Design, durante os 3 anos de formação previstos na
Casa. O primeiro deles será de instrução teórica e prática quanto a princípios de gestão e de
design para o desenvolvimento de produtos coloniais. Temas como identidade, diferença,
competitividade, empreendedorismo, desenvolvimento sustentável entre outros serão
desenvolvidos baseando-se na atividade rural que envolve o dia-a-dia dos alunos da Casa.
Um segundo ano de trabalho irá envolver ações práticas voltadas aos interesses que
cada um deles manifestar. Oficinas de aprofundamento serão desenvolvidas de modo a
otimizar, padronizar, qualificar e diferenciar os produtos coloniais. Num terceiro ano de
atuação os alunos da Casa são incentivados a desenvolver um projeto pessoal de aplicação, seja para produtos artesanais ou para o desenvolvimento da atividade rural na sua propriedade
familiar. Neste projeto serão feitas orientações e estudos de viabilidades junto aos alunos de
modo a investigar as legislações, limitações e potencialidades dos temas por eles escolhidos
para otimizar o sucesso na implantação dos mesmos.
Além do acompanhamento da formação na Casa o projeto de extensão pretende
auxiliar na implantação da atividade artesanal como um dos meios de sustentação da iniciativa
e como forma de integração não só dos alunos ao projeto, mas também de suas famílias.
Mães, irmãs e irmãos dos alunos se mostram interessados em integrar a iniciativa
contribuindo para sua consolidação.
Assim como na Toca Tapetes, as iniciativas do projeto são apresentadas e discutidas
não só com a diretoria da Casa, mas também com os pais de alunos e com os alunos em si de
forma a buscar a adequação às expectativas e às necessidades da realidade rural.
Conclusões
Avaliações de processo de efeitos já identificados
O projeto tem uma duração inicial de 18 meses financiados pelo SEBRAE e o
compromisso de cinco anos de alocação de espaço e de mão de obra dos parceiros –
Associações, Prefeituras e Universidade. Iniciado em novembro de 2003 as ações de
sensibilização dos grupos e de incentivo ao associativismo se mostraram frutíferas visto que já
se conta com mais de 100 famílias atingidas pelo projeto. Se o critério de avaliação for a
penetração do projeto já seria possível considerar o sucesso do mesmo, mas as perspectivas de
ampliação da mesma ainda indicam um aumento significativo neste número e isso leva a
acreditar mais ainda nos seus efeitos.
Depois de décadas de abandono, entidades como o Sebrae, a UDESC ou o projeto
Comunidade Solidária e diversas ONGs promovem hoje o revigoramento, o resgate do
artesanato baseado em nossas tradições culturais, abrindo caminho para uma possível nova
realidade no design brasileiro. E, principalmente, reintroduzem a confiança em nossa
capacidade de criação.
Duas questões fundamentais: como dar ao produto artesanal características
contemporâneas, capazes de torná-lo desejável e competitivo no mercado internacional?
Como difundir e escoar a produção realizada em regiões longínquas?
O desafio do Brasil - que é também o desafio lançado aos designers - é identificar o
diferencial, as características desse design - na verdade um enorme painel de escolhas - ou a
marca Brasil; é criar produtos capazes de encontrar um mercado internacional, evitando que
se continue a exportar apenas matéria-prima.
Como encontrar a tão ambicionada “cara Brasil”? Liberdade e diversidade são
palavras que podem definir nosso tempo. São também atributos do trabalho criativo. A esses
valores agrega-se qualidade. Mas o que seria essa qualidade? Qualidade é sinônimo de
inovação no conceito, na forma e na escolha de materiais e de tecnologia; é também qualidade
de execução, respeito à ecologia... e alguma poesia. Pode-se dizer que, hoje, também faz parte
da qualidade uma atenção às raízes culturais do próprio país, ou região.
Cresce o apelo local e global por novas expressões, por soluções inovadoras que
tragam um maior frescor à produção industrial, em todo o mundo; um design brasileiro de
forte identidade é uma aspiração que já parece possível, pois a consciência de sua importância
já existe entre nós, seja por parte de órgãos do governo, seja por outras entidades, ou entre os
empresários. Assim, propõe-se um novo salto, uma nova abordagem, que inclui a pretensão de
um alcance mais amplo e ambicioso, que não atinja apenas o Brasil. Partir de referências
locais e atingir o global. Esse é, seguramente, um dos caminhos possíveis para o design no
Brasil. O artesanato, em todo o mundo, voltou a ser valorizado. Um exemplo é a Design
Academy de Eindhoven, na Holanda, que no currículo de desenho industrial tem a cadeira
“artesanato”, orientada por uma incrível designer: Hella Jongerius. Em 2001, um grupo de
professores e estudantes da escola veio ao Brasil conhecer o artesanato, em busca de novas
fontes para a criação. Junto com artesãos brasileiros criaram uma coleção de alcance
internacional.
O que se propõe aqui não é um retorno simplista ao fazer artesanal, mas uma hipótese
de inversão na direção do olhar como base para uma estética brasileira e universal. Seria
como apontar um caminho, ainda pouco trilhado. Um caminho que passa pela recuperação e
utilização do artesanato.
Muito do que hoje está sendo recuperado é tocado pela mão do designer. Trata-se de
um trabalho que redescobre o antigo fazer artesanal e o orienta – sem interferir em sua
expressão original – no sentido de torná-lo adequado ao mercado. O Sebrae tem sido o
responsável pela maioria dessas ações, em todo o Brasil e a parceria com as Universidades
tem mostrado que a estratégia adotada tem grande chance de atingir os resultados esperados e
de superá-los.
Referências bibliográficas
ARTEMANHAS -. Artesanato - Disponível em:
http://www.edukbr.com.br/artemanhas/artesanato.asp. Acesso em: 05 maio 2004
BACK, Suzana. CABRAL, Diana Maia. Gestão do Design em Renda de Bilro. Florianópolis:
LabDesign/SEBRAE-SC, 2003.
PANNUZIO, Paula Maria. Aspectos do comportamento do consumidor de artesanato
brasileiro – um estudo comparativo entre dois mercados. 1982. 166f. Dissertação (Mestrado
em Administração) - Faculdade de Economia e Administração, USP, São Paulo. 1982.
REDIG, Joaquim. Sobre o Desenho Industrial (ou Design) e Desenho Industrial no Brasil:
Desenho de Produto e Comunicação Visual – Conceituação e Perspectivas da Profissão. Rio
de Janeiro. ESDI – Brasil. 1977.
WOLF, Brigitte. O Design Management como fator de sucesso. Florianópolis: IEL-Abipti,
1998.
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