Diferenças entre Redação e Produção de Textos
No campo da educação brasileira, parece que certas mudanças só acontecem depois de validadas pelo vestibular. A instituição é ainda a grande responsável por decidir conteúdos e nomenclaturas que devem ser aprendidos pelos alunos: basta ver o caso das disciplinas de artes e filosofia, por exemplo. Apesar de constarem há muito tempo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), essas áreas só passaram a ser “levadas a sério” após serem exigidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e em provas de grandes universidades públicas. Apenas a partir de então começaram a ser ministradas em cursinhos preparatórios e adquiriram o status de disciplina que é cobrada em provas.
A distinção entre “redação” e “produção de textos” é debatida faz anos entre os teóricos do texto. Contudo, enquanto os vestibulares e demais exames de grande alcance não fizerem sua opção pela nomenclatura “Produção de Textos”, a diferença entre as duas abordagens não será de conhecimento de muitos professores de português.
Li recentemente a tese de mestrado de Mônica Cruz, intitulada “A produção textual no nível médio: uma análise das condições de produção”, que é excelente em mostrar o contraste entre um professor de Redação e um professor de Produção de Textos. Ao longo de sua observação de classes, a autora confessa que só conseguiu assistir a aulas tradicionais (Redação) – o conceito de Produção de Textos acabou ficando no plano do ideal.
Baseada na catalogação das características que Cruz faz dos objetivos de uma aula de Redação, elaborei uma tabela constrastiva entre as duas nomenclaturas que estão em foco aqui. Como sou militante da Produção de Textos, busco seguir os itens que elenco como premissas desta área – afinal, escrever é agir.
Redação
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Produção de textos
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Estuda-se a forma em detrimento do conteúdo (correção do texto visa apenas aos seus aspectos gramaticais).
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Estuda-se a relação entre forma e conteúdo (correção do texto propõe um diálogo com o aluno).
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Aulas baseadas em manuais de técnicas de redação.
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Aulas baseadas em livros de teoria textual.
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Sem atividade prévia para a produção escrita.
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Exposição oral de conceitos e debate de ideias como atividade prévia de qualquer produção escrita.
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Não há trabalho de reescrita dos textos.
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Encara-se a reescrita como fundamental no processo de autoavaliação do texto.
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O destinatário do texto é o professor.
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Ao longo do ano, as melhores produções são fotografadas e publicadas em um blog; ou os alunos corrigem os textos dos colegas; ou são elaborados textos que terão destinatários reais – além dos muros da escola, entre outras ideias.
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Os textos são fruto de uma atividade de reprodução. O aluno apenas cumpre instruções.
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O aluno assume um compromisso com o que diz.
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Os textos valem nota. Há uma nota máxima a ser alcançada.
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Os textos são encarados como um exercício da cidadania do aluno. Parte-se da premissa que sempre é possível melhorar (o foco vai além de alcançar a nota máxima).
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Só se estudam os modelos narração/ descrição/ dissertação.
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São estudados diferentes gêneros e tipologias textuais.
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A linguagem é um instrumento de comunicação.
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A linguagem é uma forma de interação entre sujeitos.
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O aluno aprende a fazer redação para se dar bem nas provas.
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O aluno aprende a produzir textos para:
- interpretar melhor os vários discursos com os quais tem contato em seu dia a dia;
- refinar seu olhar crítico;
- saber como inter-agir no mundo por meio de sua palavra.
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Fonte: Professora Carina
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