Hoje, após o término da aula na UFSC (por volta do meio-dia e meio) estava indo para o ponto de ônibus em frente ao Hospital Universitário.
Estava falando ao celular com meu filho, quando ouvi um estrondo, uma batida. Rapidamente, olhei e ao meu lado um carro havia batido em uma moto.
Os ocupantes da motocicleta estavam caídos no meio da rua. O rapaz se levantara, um pouco atordoado e a caroneira - Ingridy - ficara caída, aparentemente muito ferida.
Eu e uma motociclista (que estava logo atrás da moto que foi atingida pelo carro) fomos as primeiras a chegar.
Ela conversava com o rapaz e sinalizava para os demais carros que desviassem. Eu fiquei ao lado de Ingridy tentando acalmá-la e pedindo para ela não se movesse.
Enquanto isso uma terceira pessoa ligava para a polícia e outra ligava para o SAMU. Simultaneamente a isso, uma aglomeração de curiosos se formou. Entre eles, percebi uma Moça empurrando os demais com um celular a mão e tirando muitas fotos. Quando Ela se aproximou de Ingridy que estava deitada no chão e preparava-se para tirar uma foto do ferimento da passageira perguntei se Ela conhecia Ingridy.
Sem me responder, e após tirar um selfie Ela me disse: Não!
Se aproximou ainda mais com o celular tentando ajustar um ângulo na poça de sangue que se formara devido à fratura exposta no pé de Ingridy.
Entendi a situação. Era só para colocar no Whats.
FIQUEI INDIGNADA...
Senti o sangue ferver...
Mil pensamentos ocorreram...
O que mais me chocou foi a frieza e a indiferença que Ela demonstrava.
Quem dera a ela o direito sobre o uso da imagem de outra pessoa em um momento que estava tão vulnerável, tão abandonada?
Eu ali, sentada ao lado de Ingridy sentindo sua mão trêmula e suada apertando a minha com tamanha força e desespero que dóia.
E tendo que impedir que uma pessoa publicasse nas redes sociais imagens do corpo de Ingridy marcados pela irresponsabilidade de um motorista que simplesmente fez um retorno em um lugar indevido.
Como permanecer indiferente ao aperto de mão desesperado de uma e o olhar vazio e curioso de outra?
Como ficar alheia?
Como acreditar nas pessoas? Como confiar nelas?Como uma pessoa pode ser tão indiferente a dor de outra?
Como pode alguém se empoderar da imagem do corpo alheio e ainda achar que está fazendo a coisa certa?
Por um momento achei que estivesse fazendo a coisa errada ao dizer: Some daqui! Você não tem vergonha de fazer isso? Apague estas fotos. Caí fora!
Percebi isso pelo olhar de indiferença e dezprezo que Ela me lançou ao mesmo tempo em que se afastava.
Ainda segurando a mão de Ingridy em uma espera pelo socorro que se arrastava, fiquei a divagar sobre o que estava acontecendo. Ao mesmo tempo em que o celular fora tão útil em acionar o socorro, fora também tão inútil e desnecessário, pois expôs nas redes sociais imagens uma pessoa desconhecida em um momento tão fragilizada e desprotegida. Expôs as entranhas de um corpo dilacerado pela atitude irresponsável de um motorista. Motorista que também fazia uso do celular para acionar sua família, narrando o acontecido e assumindo que errara.
Lamentável o incidente após o acidente, mas em sala de aula sinto o mesmo sentimento de repúdio ao uso indevido deste "fetiche" tecnológico!
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