No livro Repensando o Estado Novo, organizado por Dulce Pandolfi temos artigos interessantes sobre o período histórico.
Especificamente, na quinta parte: Intelectuais, cultura e educação, Helena M. B. Bomeny apresenta :
Três decretos e um ministério: a propósito da
educação no Estado Novo .
Destaquei um fragmento para pensarmos as reformas que temos atualmente e quem se destinam.
Vela refletir sobre!
"A reforma da educação passou pela elaboração de um Plano Nacional
de Educação que teve como base os resultados de um grande inquérito sobre
a educação nacional. Em maio de 1937, o Conselho Nacional de Educação encaminha
a Capanema o texto final do plano, que é enviado pelo presidente da
República ao Congresso para aprovação. Em seu art. 1º estava previsto que o
plano só poderia ser alterado após 10 anos de vigência, e Capanema solicita
sua aprovação “em globo”. Era um documento extenso, com 504 artigos ao
longo de quase 100 páginas de texto, e buscava consagrar uma série de princípios
e opções educacionais, de forma alguma consensuais, e cuja discussão
a proposta de “aprovação em globo” visava, justamente, a evitar.
A reforma do ensino secundário foi outro ponto de honra do ministé-
rio, e suas linhas mestras ilustram a matriz que vencia na definição do que e
como ensinar à juventude em um momento crucial de sua formação como futuros
profissionais e cidadãos de uma sociedade diferenciada. Confrontavamse
nesse momento posições distintas a respeito do teor que se deveria imprimir
à formação dos jovens cidadãos. Educação humanista versus educação
técnica; ensino generalizante e clássico versus ensino profissionalizante são
pares de oposição (falsa oposição?) que até hoje permanecem como desafios
à reforma do ensino secundário. O Estado Novo resolveria o problema com
uma solução engenhosa. Ao lado da reforma do ensino secundário, onde acabou
prevalecendo a matriz clássica humanista, montou-se todo um sistema de
ensino profissional, de ensino industrial que deu origem ao que conhecemos
hoje como “Sistema S”, ou seja, os Senai, Senac, Sesi etc.
Coroando todo
esse empreendimento, o ministério reestruturaria o ensino superior, criando e
dando corpo ao grande projeto universitário.
Esse projeto implicava a reordenação da tradição que abrigava diferentes
faculdades esparsas que, na avaliação de especialistas do ministério, apenas
forneciam diplomas para as profissões normais sem um plano de conjunto que caracteriza a vida universitária. Esperava-se da universidade que fosse articulada
e preparada para a educação das elites que dirigiriam a nação. Capanema
empenhou-se no ensino universitário, certamente o mais ambicioso
segmento de seu programa de reformas educacionais. No projeto Capanema,
o preparo das elites teve prioridade sobre a alfabetização intensiva das massas.
O ensino primário sequer foi tocado. O ministro estava convencido de
que com verdadeiras elites se resolveria não somente o problema do ensino
primário, mas o da mobilização de elementos capazes de movimentar, desenvolver,
dirigir e aperfeiçoar todo o mecanismo de nossa civilização."
Fonte: http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/142.pdf
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