"Seu dotô, só me parece Que o sinhô não me conhece Nunca sôbe quem sou eu Nunca viu minha paioça, Minha muié, minha roça, E os fio que Deus me deu. Se não sabe, escute agora, Que eu vô contá minha história, Tenha a bondade de ouvi: Eu sou da crasse matuta, Da crasse que não desfruta Das riqueza do Brasil. Sou aquele que conhece As privação que padece O mais pobre camponês; Tenho passado na vida De quatro mês em seguida Sem comê carne uma vez. Sou o que durante a semana, Cumprindo a sina tirana, Na grande labutação Mode sustentá a famia Só tem direito a dois dia O resto para o patrão. Sou o sertanejo que cansa De votá, com esperança Do Brasil ficá mió; Mas o Brasil continua Na cantiga da perua Que é: pió, pió, pió… Sou o que no tempo da guerra Contra o gosto se desterra Para nunca mais vortá E vai morrê no estrangêro Como pobre brasilêro Longe do torrão natá. Sou o mendigo sem sossego Que por não achá emprego Se vê forçado a seguí Sem direção e sem norte, Envergonhado da sorte, De porta em porta a pedí. Sou aquele desgraçado, Que nos ano atravessado Vai batê no Maranhão, Sujeito a todo o matrato, Bicho de pé, carrapato, E os ataques de sezão. Senhô dotô , não se enfade Vá guardando essa verdade Na memória e pode crê Que sou aquele operário Que ganha um pobre salário Que não dá não para comê Sou ele todo, em carne e osso, Muitas vez, não tem armoço Nem também o que jantá; Eu sou aquele rocêro, Sem camisa e sem dinhêro, Cantado por Juvená. Sim, por Juvená Galeno, O poeta, aquele genio, O maió dos trovadô, Aquele coração nobre Que a minha vida de pobre Muito sentido cantou. Há mais de cem ano eu vivo Nesta vida de cativo E a potreção não chegou; Sofro muito e corro estreito, Inda tou do mermo jeito Que Juvená me deixou. Sofrendo a mesma sentença Eu já tô perdendo a crença, E pra ninguém se enganá Vou deixá o meu nome aqui: Eu sou fio do Brasil, O meu nome é Ceará."
23 de agosto de 2017
Belíssimo Patativa do Assaré declamando "Senhor Doutô"
"Seu dotô, só me parece Que o sinhô não me conhece Nunca sôbe quem sou eu Nunca viu minha paioça, Minha muié, minha roça, E os fio que Deus me deu. Se não sabe, escute agora, Que eu vô contá minha história, Tenha a bondade de ouvi: Eu sou da crasse matuta, Da crasse que não desfruta Das riqueza do Brasil. Sou aquele que conhece As privação que padece O mais pobre camponês; Tenho passado na vida De quatro mês em seguida Sem comê carne uma vez. Sou o que durante a semana, Cumprindo a sina tirana, Na grande labutação Mode sustentá a famia Só tem direito a dois dia O resto para o patrão. Sou o sertanejo que cansa De votá, com esperança Do Brasil ficá mió; Mas o Brasil continua Na cantiga da perua Que é: pió, pió, pió… Sou o que no tempo da guerra Contra o gosto se desterra Para nunca mais vortá E vai morrê no estrangêro Como pobre brasilêro Longe do torrão natá. Sou o mendigo sem sossego Que por não achá emprego Se vê forçado a seguí Sem direção e sem norte, Envergonhado da sorte, De porta em porta a pedí. Sou aquele desgraçado, Que nos ano atravessado Vai batê no Maranhão, Sujeito a todo o matrato, Bicho de pé, carrapato, E os ataques de sezão. Senhô dotô , não se enfade Vá guardando essa verdade Na memória e pode crê Que sou aquele operário Que ganha um pobre salário Que não dá não para comê Sou ele todo, em carne e osso, Muitas vez, não tem armoço Nem também o que jantá; Eu sou aquele rocêro, Sem camisa e sem dinhêro, Cantado por Juvená. Sim, por Juvená Galeno, O poeta, aquele genio, O maió dos trovadô, Aquele coração nobre Que a minha vida de pobre Muito sentido cantou. Há mais de cem ano eu vivo Nesta vida de cativo E a potreção não chegou; Sofro muito e corro estreito, Inda tou do mermo jeito Que Juvená me deixou. Sofrendo a mesma sentença Eu já tô perdendo a crença, E pra ninguém se enganá Vou deixá o meu nome aqui: Eu sou fio do Brasil, O meu nome é Ceará."
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