10 de fevereiro de 2018

A violência contra a mulher que vive no campo

O Diário Catarinense fez uma reportagem retratando justamente um grupo de mulheres que sofrem violência - as que vivem no campo.
Para a maioria dessas mulheres trabalho, violência e silêncio são rotinas no dia-a-dia no campo.
A reportagem publicada em 01 de julho de 2017, após a confirmação do assassinato de sete mulheres por seus companheiros, apresentava a seguinte chamada:

"A violência contra a mulher que vive no campo é um fenômeno ainda invisível para a maioria. O isolamento das propriedades, falta de vizinhos por perto e dificuldades de comunicação torna essa realidade brutal. Também distantes dos serviços de proteção, como Delegacias de Polícia, e abrigos, para onde possam ser encaminhadas, enfrentam violências física, psicológica e financeira. Em alguns casos, essa situação chega ao extremo. De janeiro a maio deste ano, sete foram assassinadas no Oeste catarinense."
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Leia a reportagem na íntegra:
DIARIO CATARINENSE - VIOLÊNCIA NO CAMPO

Para quem conhece a realidade  do Oeste e Extremo Oeste sabe que a violência doméstica é uma realidade, tanto na cidade quanto no campo. Essa região formada por pequenos municípios, em sua grande maioria, tendo a agroindústria e a agricultura familiar como fontes de renda para os munícipes.
Nesse contexto, as mulheres que vivem no campo têm uma realidade que está aquém da equidade de gênero. Isso não existe.
"ISSO É COISA DE GENTE DA CIDADE GRANDE."
"COISA DE MULHER QUE NÃO TEM NADA PARA FAZER".
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Esse discurso também é proferido por muitas mulheres que sequer têm consciência que vivem em um contexto de violência.
Em muitas famílias a reprodução do modelo de família machista persiste também na criação dos filhos.
Os meninos cumprem com os afazeres no campo, mas não têm nenhuma responsabilidade no cumprimento dos afazeres domésticos. As meninas cumprem também os afazeres no campo e ao retornarem "da lida" assumem com suas mães os afazeres domésticos. Pai e filho tomam banho e esperam o jantar ser servido. Após o jantar, pai e filho têm outras atividades.
Em muitos casos, o pai vai para o bar e retorna para casa embriagado...
Outra situação corriqueira é quando os homens vêm à cidade para comprar insumos, depois vão ao bar e chegam em casa, à noite, alcoolizados. Para a grande maioria das mulheres, esses dias são prenúncios de que serão vítimas de violência: psicológica, física e sexual.
Outro problema endêmico nessa região é o alcoolismo, socialmente aceito, mas para a maioria das famílias e, principalmente, das mulheres, a ida do marido à bodega é sinônimo de uma noite em claro e, na maioria dos casos, violenta.
A violência doméstica no campo ainda tem uma outra violência agregada: a violência patrimonial. pois a maioria das famílias são chefiadas pelos homens, colocando a mulher em uma situação de dependência. A situação é de servidão em muitas famílias: "a mulher tem que servir o marido", esse conselho ainda hoje é dado por muitas matriarcas às netas.
Mesmo mulheres, vítimas de violência, perpetuam discursos do papel servil da mulher, tais discursos ancorados em uma experiência de vida de que "é a mulher que segura o casamento", "é a mulher que mantém a harmonia do lar", "a mulher tem que ser forte e suportar tudo", "a mulher tem que sofrer calada" ou ainda pelo discurso religioso que defende o papel da mulher dócil e servil.
Há também um código de silêncio nessas comunidades: "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Essa violência também é "justificada", "mulher têm que levar na cara".
Há uma normatização do discurso masculino no sentido de que a mulher é propriedade dele.
Tais discursos se perpetuam e vemos novas famílias sendo construídas calcadas nos mesmo  modelos de servidão e subjugação feminina.
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"Somente em 2017, foram 70 mulheres assassinadas, sendo 25 casos de violência doméstica e 6 latrocínios. No ano passado, foram registrados 127 homicídios dolosos contra mulheres. Destes, 52 casos foram de violência doméstica e 10 latrocínios."
Fonte: http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/10/em-5-anos-542-mulheres-foram-assassinadas-em-santa-catarina-9943744.html

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