Vínculos, as equações da matemática da vida
Quando você forma um vínculo com alguém, forma
uma aliança. Não é à toa que o uso de alianças é um dos símbolos mais antigos e
universais do casamento. O círculo dá a noção de ligação, de fluxo, de continuidade.
Quando se forma um vínculo, a energia flui. E o vínculo só se mantém vivo se
essa energia continuar fluindo. Essa é a idéia de mutualidade, de troca.
Nessa caminhada da vida, ora andamos de mãos
dadas, em sintonia, deixando a energia fluir, ora nos distanciamos. Desvios
sempre existem. Podemos nos perder em um deles e nos reencontrar logo adiante.
A busca é permanente. O que não se pode é ficar constantemente fora de
sintonia.
Antigamente, dizia-se que as pessoas procuravam
se completar através do outro, buscando sua metade no mundo. A equação era: 1/2
+ 1/2 = 1. "Para eu ser feliz para sempre na vida, tenho que ser a metade
do outro." Naquela loteria do casamento, tirar a sorte grande era achar a
sua cara-metade.
Com o passar do tempo, as pessoas foram
desenvolvendo um sentido de individualização maior e a equação mudou. Ficou: 1
+ 1 = 1. "Eu tenho que ser eu, uma pessoa inteira, com todas as minhas
qualidades, meus defeitos, minhas limitações. Vou formar uma unidade com meu
companheiro, que também é um ser
inteiro." Mas depois que esses dois seres inteiros se encontravam, era
comum fundirem-se, ficarem grudados num casamento fechado, tradicional.
Anulavam-se mutuamente.
Com a revolução sexual e os movimentos de
libertação feminina, o processo de individuação que vinha acontecendo se
radicalizou. E a equação mudou de novo: 1 + 1 = 1 + 1. Era o "cada um na
sua". "Eu tenho que resolver os meus problemas, cuidar da minha
própria vida. Você deve fazer o mesmo. Na minha independência total e autossuficiência
absoluta, caso com você, que também é assim." Em nome dessa independência,
no entanto, faltou sintonia, cumplicidade e compromisso afetivo. É a segunda
crise do casamento que acompanhamos nas décadas de 70 e 80.
Atualmente, após todas essas experiências, eu
sinto as pessoas procurando outro tipo de equação: 1 + 1 = 3. Para a aritmética
ela pode não ter lógica, mas faz sentido do ponto de vista emocional e
existencial. Existem você, eu e a nossa relação. O vínculo entre nós é algo
diferente de uma simples o que é seu é seu e o que é nosso é nosso. Talvez aí
esteja a grande mágica que hoje buscamos, a de preservar a individualidade sem
destruir o vínculo afetivo. Tenho que preservar o meu eu, meu processo de
descoberta, realização e crescimento, sem destruir a relação. Por outro lado,
tenho que preservar o vínculo sem destruir a individualidade, sem me anular.
Acho que assim talvez possamos chegar ao ano 2000
um pouco menos divididos entre a sede de expressão individual e a fome de amor
e de partilhar a vida. Um pouco mais inteiros e felizes. Para isso, temos que
compartilhar com nossos companheiros de uma verdadeira intimidade. Ser íntimo é
ser próximo, é estar estreitamente ligado por laços de afeição e confiança.
(MATARAZZO,
Maria Helena. Amar é preciso. 22.
ed. São Paulo: Editora Gente, 1992. p. 19-21)
Nenhum comentário:
Postar um comentário