Eu não vejo diferenças tão acentuadas entre escolas públicas e particulares.
O que vejo é a diferença entre os alunos. Na escola pública há gente que não quer nada
como da mesma forma há na escola particular, mas também há excelentes alunos tanto
em uma rede quanto em outra. Quem é interessado o é independente do lugar. Sou
professora de escola pública e tenho alunos que leem muito. Que tem percepção das
coisas, da realidade, sabem lidar com as diferenças e são extremamente críticos. Vejo que
a escola pública é um recorte do mundo real. Nós nos tornamos melhores profissionais
quando passamos pela escola pública, pois temos que rever nossas posturas, temos que
ter habilidade para lidar com as diferenças, temos que aprender a resolver muitas coisas
sozinhas. apaziguar conflitos de gênero, raça, classe social etc. Temos que ser mais
criativos e temos que ser pessoas melhores. Não que não existam essas possibilidades
em uma escola particular. Em algumas você conta com uma boa equipe pedagógica para
ajudá-lo a encontrar a solução. Em outras - que impera a lei do mercantilismo - você fica
quieta ou é demitida. Pois, algumas famílias não admitem que seus filhos -seres humanos
tenham falhas seríssimas de caráter ou até mesmo que estejam desesperadamente
chamando a atenção. Diferente da escola pública, cuja grande maioria dos
pais têm consciência sobre seu filho(a), mesmo que de uma forma truncada "ele não quer
estudar, mas em casa ele me ajuda", "preciso de ajuda, não sei mais o que fazer", pega
firme com ele (ela), a vida não é fácil", "ele é assim, mas se pegarmos juntos, ele
conseguirá", "nós vamos conseguir, né professora?", "É uma boa pessoa, mas ainda não
achou seu caminho", "eu sei que ele errou, mas ele é meu filho, não posso abandoná-lo".
Sei que estes discursos estão atravessados por relações de poder, de subalteridade,
mas o que quero salientar e que na escola pública estamos mais próximos de um mundo
real, quando falamos de saber lidar e respeitar as diferenças, nosso alunos entendem que
nos referimos não a um ser hipotético, mas que se refere ao colega que é surdo-mudo,
a amiga que é TDAH, aos alunos ou alunas negras, aos que são homossexuais, aos
colegas com mais dificuldades financeiras. Os conflitos estão expostos em uma pequena
parcela de alunos. Logicamente a resolução desses conflitos implica em muitas situações
adversas ao que chamamos de normalidade. Quantos alunos negros há na rede privada?
Que escola privada aceita aluno com deficiência que precise do acompanhamento de um
segundo professor? Conta-se nos dedos. Na escola pública é o mundo real. Com
sentimentos - positivos ou negativos - a flor da pele. A vida pulsante. E é nesse mundo real
que me realizo. Que percebo que sou mais útil.
Afinal, esse é o meu mundo..
Certa vez ouvi de um colega a seguinte frase em represália por justificar as
dificuldades pelas quais uma aluna estava passando: Ah! Professora! Eu não quero sabe
disso. Venho aqui, dou as minhas aulas e depois vou embora. Do portão pra fora a vida
dela não me interessa." Chocada respondi: "Pra mim me interessa, pois do portão da
escola pra fora, ela faz parte do meu mundo".
O problema é que na escola pública temos uma serie de situações
"contra nós" e que temos que resolver - na maioria das vezes sozinhos.
Quando observamos as escolas públicas em pequenas cidades, percebemos
claramente a verdadeira função da escola, pois não há distinção no acesso. Lá estudam o
filho do prefeito, do médico, dos professores, da diretora, dos vereadores, dos secretários,
dos agricultores, dos pastores, ou seja, toda a comunidade. Com isso ganham os alunos.
Diferente dos grandes centros que temos "escolas de pobres" e "escolas de ricos" e
"escolas dos ainda mais ricos". O tratamento não é igualitário, mesmo que os alunos seja
pertencentes a mesma classe social. Já há nesse momento uma "classificação" de melhor
ou pior, mesmo que se saiba que alunos são alunos em qualquer ambiente.
Prova disso, é que alunos de uma das escolas mais tradicionais de Florianópolis
- de classe alta - obtiveram a mesma média no Enem de uma escola na periferia "aquela
escola só tem marginais". Como explicar? Tantas diferenças e o mesmo resultado.
Talvez porque ter pai e mãe que não exercem sua função primeira - de educadores - faça a diferença. Indiferente da classe social. Temos pais e pais e mães e mães.
Temos escolas e escolas. Temos professores e professores.
Também temos alunos e alunos que fazem a diferença em qualquer rede de ensino.
Afinal, é o aluno que conta.
Beijão para meus alunos.
Gostei.Mas isso foi opinião ? pesquisa ? ou conclusão ?
ResponderExcluirFoi opinião baseada na experiência.
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