10 de setembro de 2014

Escola pública ou privada? Eis a questão.

Eu não vejo diferenças tão acentuadas entre escolas públicas e particulares. 
O que vejo é a diferença entre os alunos. Na escola pública há gente que não quer nada 
como da mesma forma há na escola particular, mas também há excelentes alunos tanto 
em uma rede quanto em outra. Quem é interessado o é independente do lugar. Sou 
professora de escola pública e tenho alunos que leem muito. Que tem percepção das 
coisas, da realidade, sabem lidar com as diferenças e são extremamente críticos. Vejo que
 a escola pública é um recorte do mundo real. Nós nos tornamos melhores profissionais 
quando passamos pela escola pública, pois temos que rever nossas posturas, temos que 
ter habilidade para lidar com as diferenças, temos que aprender a resolver muitas coisas 
sozinhas. apaziguar conflitos de gênero, raça, classe social etc. Temos que ser mais 
criativos e temos que ser pessoas melhores. Não que não existam essas possibilidades 
em uma escola particular. Em algumas você conta com uma boa equipe pedagógica para
 ajudá-lo a encontrar a solução. Em outras - que impera a lei do mercantilismo - você fica 
quieta ou é demitida. Pois, algumas famílias não admitem que seus filhos -seres humanos
 tenham falhas seríssimas de caráter ou até mesmo que estejam desesperadamente 
chamando a atenção. Diferente da escola pública, cuja grande maioria dos
 pais têm consciência sobre seu filho(a), mesmo que de uma forma truncada "ele não quer
 estudar, mas em casa ele me ajuda", "preciso de ajuda, não sei mais o que fazer", pega 
firme com ele (ela), a vida não é fácil", "ele é assim, mas se pegarmos juntos, ele 
conseguirá", "nós vamos conseguir, né professora?", "É uma boa pessoa, mas ainda não 
achou seu caminho", "eu sei que ele errou, mas ele é meu filho, não posso abandoná-lo".
     Sei que estes discursos estão atravessados por relações de poder, de subalteridade,
 mas o que quero salientar e que na escola pública estamos mais próximos de um mundo 
real, quando falamos de saber lidar e respeitar as diferenças, nosso alunos entendem que
nos referimos não a um ser hipotético, mas que se refere ao colega que é surdo-mudo, 
a amiga que é TDAH, aos alunos ou alunas negras, aos que são homossexuais, aos 
colegas com mais dificuldades financeiras. Os conflitos estão expostos em uma pequena 
parcela de alunos. Logicamente a resolução desses conflitos implica em muitas situações 
adversas ao que chamamos de normalidade. Quantos alunos negros há na rede privada?
Que escola privada aceita aluno com deficiência que precise do acompanhamento de um 
segundo professor? Conta-se nos dedos. Na escola pública é o mundo real. Com 
sentimentos - positivos ou negativos - a flor da pele. A vida pulsante. E é nesse mundo real
que me realizo. Que percebo que sou mais útil.
         Afinal, esse é o meu mundo..
         Certa vez ouvi de um colega a seguinte frase em represália por justificar as 
dificuldades pelas quais uma aluna estava passando: Ah! Professora! Eu não quero sabe
 disso. Venho aqui, dou as minhas aulas e depois vou embora. Do portão pra fora a vida 
dela não me interessa." Chocada respondi: "Pra mim me interessa, pois do portão da 
escola pra fora, ela faz parte do meu mundo".
      O problema é que na escola pública temos uma serie de situações
 "contra nós" e que temos que resolver - na maioria das vezes sozinhos.
       Quando observamos as escolas públicas em pequenas cidades, percebemos
 claramente a verdadeira função da escola, pois não há distinção no acesso. Lá estudam o
 filho do prefeito, do médico, dos professores, da diretora, dos vereadores, dos secretários, 
dos agricultores, dos pastores, ou seja, toda a comunidade. Com isso ganham os alunos. 
Diferente dos grandes centros que temos "escolas de pobres" e "escolas de ricos" e 
"escolas dos ainda mais ricos". O tratamento não é igualitário, mesmo que os alunos seja 
pertencentes a mesma classe social. Já há nesse momento uma "classificação" de melhor
 ou pior, mesmo que se saiba que alunos são alunos em qualquer ambiente. 
      Prova disso, é que alunos de uma das escolas mais tradicionais de Florianópolis 
- de classe alta - obtiveram a mesma média no Enem de uma escola na periferia "aquela 
escola só tem marginais". Como explicar? Tantas diferenças e o mesmo resultado. 
Talvez porque ter pai e mãe que não exercem sua função primeira - de educadores - faça a diferença. Indiferente da classe social. Temos pais e pais e mães e mães.
        Temos escolas e escolas. Temos professores e professores. 
        Também temos alunos e alunos que fazem a diferença em qualquer rede de ensino.
        Afinal, é o aluno que conta.

        Beijão para meus alunos.


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