Mas voltando ao assunto que me propus falar e que tem me incomodado muito. Terminarei o Doutorado no segundo semestre de 2017. Muitas pessoas me perguntam:
"O que você vai fazer?"
Eu, calmamente respondo: "Voltar pra escola".
Vejo a cara de espanto e de incredulidade da maioria das pessoas. E essa cena têm sido tão frequente que ultimamente têm me incomodado, principalmente por que eu tenho que explicar minha decisão.
Contudo, não culpo essa pessoas pela pergunta tampouco por quem decide fazer uma pós-graduação e não voltar para as escolas. É uma decisão difícil, mas (facilmente) justificável.
(Quiçá daqui a pouco será a minha).
O "ser professor" ainda hoje é considerado em nossa sociedade como um ato de altruísmo. No Dia dos professores recebemos muitas felicitações, contudo nas discussões sobre Educação somos os primeiros a levar pedradas. Se fizermos greves então... É o fim. Somos tratados pelos governantes como vândalos, somos acuados pela polícia e atacados com bombas de efeito moral etc.
Em áreas como Medicina e Direito, principalmente, os alunos terminam a graduação é já "carregam" o título de Doutor, nas licenciaturas "parece" não ter o mesmo valor. Nas licenciaturas se faz uma pós-graduação em nível de Mestrado ou de Doutorado para ministrar aulas em universidades.
Esta é a lógica. Não para ministrar aulas para o Ensino Fundamental ou Médio. Na Educação Infantil, então? "Pra que estudar tanto só pra cuidar de criança?".
Não precisamos de "professorinha" na Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II, precisamos de profissionais qualificados e bem qualificados. Contudo, as atuais políticas públicas brasileiras andam na contra mão disso, mas isso é para outra discussão.
Portanto, quando falo que voltarei a trabalhar no Ensino Fundamental II após concluir o Doutorado é compreensível o espanto.
Na rede estadual de SC - um dos menores salários pagos a professores do ensino Básico e Médio - um professor com Doutorado tem o salário de R$ 3.368,50 enquanto com a mesma qualificação também na rede estadual de SC, mas na Universidade do Estado de Santa Catarina o salário é de R$ 7.949,57, mais vale alimentação (isso para professor contratado). E nos dois casos o professor é contratado com quarenta horas. O professor do Fundamental e médio ministra 32 aulas e o da UDESC bem menos que isso (não pesquisei a quantidade de aulas, mas algo em torno de 15).
Desse modo, justifica-se a evasão do professorado pós-graduado do Ensino Fundamental para o Ensino Superior. Afinal, ninguém vive de vento.
Outro ponto, além do salarial, é o "status" para a sociedade, entre ser um professor do fundamental e um professor universitário. Ser professor do fundamental automaticamente te (des)qualifica, é como se você tivesse menos conhecimento.
Acredito que na Educação Infantil e no Ensino Fundamental deveria ter o professorado melhor (e com mais) qualificado, pois entendo que o momento no qual tudo se inicia. É o ponto em que desenvolvemos as capacidades. Por exemplo, o hábito da leitura. É mais fácil desenvolvê-lo em crianças do que em um adulto. As chances de sucesso são maiores.
Outro pergunta que ouço após dizer que voltarei ao Ensino Fundamental é: "Você pretende ficar no ensino fundamental?"
Respondo que não sei, cada coisa tem seu tempo, seu momento e sua importância.
Por enquanto, acredito que possa promover mudanças efetivas aplicando tudo o que tenho aprendido na sala de aula.
Mas não sou altruísta.
Preciso de dinheiro como todos vocês, mas no momento, minhas prioridades são outras.
Vai entender!!!
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