22 de março de 2015

Atar as pontas da vida (Dom Casmurro, Machado de Assis)

Há muito tempo percebo que meu corpo e minha mente não andam em sintonia.
Quando adolescente, sempre ouvia minha mãe - com ar saudosista - repetir a frase:
"Ah! Se eu tivesse a tua idade e soubesse o que eu sei hoje. Faria muita coisa diferente".
Ela mencionava isso quando eu me sentia frustrada com pessoas, desapontamentos com amigos ou amigas, paixonites ou nos momentos de revolta comigo - típica dos adolescentes. Não entendia.
Hoje entendo. A maturidade - o conhecimento - nos faz viver mais leves, nos incomodar com o que realmente importa. Relevamos muitas coisas, descartamos muitos sentimentos que nos fazem mal. Ignoramos pessoas ou situações que nos desconfortam. Queremos é viver bem, com pessoas que nos complementem, que nos elevem, que nos propiciem crescer e evoluir. Temos bem claro o que não queremos ser. E temos forças para nos desviar disso.


Relendo Dom Casmurro (Machado de Assis), eis que a personagem disse exatamente como estava me sentindo.
"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está, é mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como em todos os documentos falsos, mas não a mim" (ASSIS, Machado. Dom Casmurro. Obra Completa, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1997, p. 810)




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