Reler Dom Casmurro me fez refletir muito mais sobre a narrativa.
Estar em um momento no qual há possibilidades de cruzamentos com outras leituras, com outras experiências. Isso é gratificante.
Como disse anteriormente, a primeira leitura de Dom Casmurro tinha gosto de chocolate - literalmente - pois ganhei uma caixa de chocolate para fazer o resumo do livro. Recordava-me vagamente da história. Tinha uma única certeza: não gostara de Bentinho.
Mas tal qual Bentinho, ao atar as pontas do destino percebi porque minha aversão - adolescente - por Bentinho.
Analisando a narrativa, percebe-se que é o narrador - Bentinho - que direciona ao leitor seu "olhar oblíquo" (não me recordo onde li) sobre Capitú. É ele que a descreve, mas não fisicamente, pois às poucas vezes que a descreve fisicamente, o faz de forma que nós, leitores não tenhamos ajetivos suficientes para criar uma imagem mental. Assim, a conhecemos psicologicamente.
O narrador vai, ao longo da narrativa, plantando provas que nos permitam criar uma personagem pouco confiável. Além disso também, é o narrador quem regula a fala da personagem. ele permite que ela fale, mas são espectos da fala dela, ditas pelo narrador. Normalmente, essas falas são em situações triviais.
Bentinho silencia Capitú. Como aponta a professora Linda Catarina Gualda em seu artigo "Representações do feminino em Dom Casmurro: o silêncio de Capitú". Linda apresenta a construção social que distingue masculino/feminino, no qual coloca a mulher em uma posição de inferioridade e veiculando uma imagem negativa dessa mulher - adúltera.
No livro, o narrador vai construindo a personalidade de Capitú contrapondo-a a imagem de mulher da mãe - uma santa. No entanto, fica claro para o filho a santidade da mãe, mas para nós, leitores, a mãe é uma mulher manipuladora que se aproxima de Capitú, pois percebe nela a possibilidade que possa trazer o filho de volta à casa.
Temos portanto, como afirma a professora Linda o "olhar estrábico de Bento Santiago" ao criar as imagens de Capitú.
Roteiro: Capitu
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