Nos livros didáticos podemos encontrar e resgatar alguns autores esquecidos pela crítica e invisibilizados pelo cânone, como é o caso de B. Lopes pseudônimo de Bernardino da Costa Lopes, nascido no Rio de Janeiro em 1859 e falecido em 1917.
1. No livro Literatura Luso-brasileira o escritor Francisco da Silveira Bueno destaca a poesia "O canário morto" (em 1944)
O Canário morto
B. Lopes
Era doce a alegria
da minha vida: enchia-me a saleta
da garrulice e deliciosos trilhos,
desde a alvorada até o indar do dia.
Vivíanos tranquilos,
eu um pobre poeta,
ele um tenor, um belga superfino,
loirinho, muito loiro,
como um filhinho tréfego de ingleses,
Olhos inquietos e pescoço fino.
Nós, tínhamos, às vezes,
duos de flauta - original orquestra!
em vez da refeição e da palestra.
E ouviam-se risadas
que pareciam moedinhas d´oiro,
sobre mesas de mármore atiradas,
quando o sol de janeiro
entrava, rindo pela casa dentro,
e vinha´nos o cheiro
dos próximos hotéis, da salsa e do conetro,
das hortas, cheias de repolho e selga.
Aí! com tristeza o digo:
morreu cantando o meu canário belga!
Envolve-o a sombra do feral mistério.
Minha saudade roxa, vem comigo,
ao triste cemitério
do meu quintal, onde enterrei aquele
que foi na vida meu melhor amigo,
e para onde agora a dor me impele...
Tenho os olhos de lágrimas pisados
no dia de finados!
Canários que passais, - orai por ele!"
Fonte:
BUENO, Francisco da Silveira. Literatura Luso-brasileira. São Paulo: Livraria Acadêmica - Saraiva & Cia, 1944, p. 471, 472
2. Em 1953, o escritor Marques da Cruz contempla na 9a edição de Seleta Portugês Prático - 1a e 2a séries - Curso Ginasial.duas poesias de B. Lopes. A primeira "Cena Rústica" (p. 29) e também a poesia "O canário morto" (p. 30-31). Na primeira a autoria é de B. Lopes e na segunda grafa-se o nome do autor de modo diferenciado, passa a ser Bernardino Lopes.
Marques da Cruz ainda faz uma breve aprsentação do autor:
"Bernardino da Costa Lopes (1859-1917)
Nasceu em Rio Bonito, Rio de Janeiro. Escolhia sempre para temas de suas poesias, os motivos simples e delicados, que apresentava como verdadeiros cromos".
Fonte:
CRUZ, Marques da. Seleta Portugês Prático - 1a e 2a séries - Curso Ginasial. 9. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1953, p. 29.
"Cena rústica
Caíra o sol no horizonte!
A rapariga travêssa
Vai, de cântaro à cabeça
Pelo caminho da fonte.
Fumega o rancho. Defronte
Azula-se a mata espêssa...
Antes, pois, que a noite desça,
Voam as aves ao monte.
Aponta o Vésper, brilhante...
E o largo silêncio corta
Uma toada distante...
Irado, enxotando o galo,
Está um homem na porta,
Dando ração ao cavalo."
Fonte:
CRUZ, Marques da. Seleta Portugês Prático - 1a e 2a séries - Curso Ginasial. 9. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1953, p. 29.
3. Já no ano de 1954, no livro de Azevedo Correa, a Antologia para o Curso Primário e Admissão ao Ginásio em sua segunda edição também aparecem duas poesias de B. Lopes: Berço e Cromo.
No entanto, antes de apresentar as poesias, apresenta um breve comentário sobre B. Lopes:
"Bernardino da Costa Lopes, cujo nome literário é apenas B. Lopes, nasceu e morreu em Rio Bonito (Estado do Rio), tendo vivido de 1859 a 1940.
Deixou-nos: Cromos, Brazões, Sinhá Flor, etc.." (p. 184)
BERÇO
Recordo: um lago verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um postilhão e um carro
De três juntas bovinas que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.
Havia a escola, que era azul e tinha
Um mestre mau, de assusutador pigarro...
(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha,
Quando estas coisas tão singelas narro?)
Seu Alexandre, um bom velhinho rico
Que hospedara a princêsa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra...
Com seu nome de amor, Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança,
Da minha pobre e pequenina terra!
Cromos
CROMO
Na alcova combria e quente,
Pobre demais, se não erro,
Repousa um moço doente,
Sôbre uma cama de ferro.
Pede-lhe baixo, inclinada,
Sua mulher - que adormeça,
Em cuja perna curvada,
Êle reclina a cabeça...
Vem uma loura figura
Com a colher da "tintura",
Que êle recusa num - ai!
Mas o solícito anjinho,
Diz-lhe com sorriso e carinho:
- "Bebe, que é doce, papai!"
Idem
Fonte:
CORREA, Azevedo, Antologia para o Curso Primário e Admissão ao Ginásio. 2. ed. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1954, p. 184-185
Isis Manhaes silveira
ResponderExcluirPrimeira poesia que minha mãe me ensinou.
ResponderExcluirQue bacana, Isis! Fico feliz em partilhar de uma recordação tão bacana!
ResponderExcluirA poesia "Berço é de uma sensibilidade notada em poucas de nossas páginas literárias.
ResponderExcluirSou da terra de B. Lopes, precisando de alguma informação sobre Rio Bonito-RJ gostaria de ajudar.
ResponderExcluirAbraço a todos