26 de maio de 2015

Resgatando a poesia de B. Lopes (Bernardino da Costa Lopes (1859-1917)

Nos livros didáticos podemos encontrar e resgatar alguns autores esquecidos pela crítica e invisibilizados pelo cânone, como é o caso de B. Lopes pseudônimo de Bernardino da Costa Lopes, nascido no Rio de Janeiro em 1859 e falecido em 1917.

1. No livro Literatura Luso-brasileira o escritor Francisco da Silveira Bueno destaca a poesia "O canário morto" (em 1944)

O Canário morto
B. Lopes

Era doce a alegria
da minha vida: enchia-me a saleta
da garrulice e deliciosos trilhos,
desde a alvorada até o indar do dia.

Vivíanos tranquilos,
eu um pobre poeta,
ele um tenor, um belga superfino,
loirinho, muito loiro,
como um filhinho tréfego de ingleses,
Olhos inquietos e pescoço fino.

Nós, tínhamos, às vezes,
duos de flauta - original orquestra!
em vez da refeição e da palestra.

E ouviam-se risadas
que pareciam moedinhas d´oiro,
sobre mesas de mármore atiradas,
quando o sol de janeiro
entrava, rindo pela casa dentro,
e vinha´nos o cheiro
dos próximos hotéis, da salsa e do conetro,
das hortas, cheias de repolho e selga.
Aí! com tristeza o digo:
morreu cantando o meu canário belga!
Envolve-o a sombra do feral mistério.

Minha saudade roxa, vem comigo,
ao triste cemitério
do meu quintal, onde enterrei aquele
que foi na vida meu melhor amigo,
e para onde agora a dor me impele...
Tenho os olhos de lágrimas pisados
no dia de finados!
Canários que passais, - orai por ele!"

Fonte:
BUENO, Francisco da Silveira. Literatura Luso-brasileira. São Paulo: Livraria Acadêmica - Saraiva & Cia, 1944, p. 471, 472

2. Em 1953, o escritor Marques da Cruz  contempla na 9a edição de Seleta Portugês Prático  - 1a e 2a séries - Curso Ginasial.duas poesias de B. Lopes. A primeira "Cena Rústica" (p. 29) e também a poesia "O canário morto" (p. 30-31). Na primeira a autoria é de B. Lopes e na segunda grafa-se o nome do autor de modo diferenciado, passa a ser Bernardino Lopes.

Marques da Cruz ainda faz uma breve aprsentação do autor:

"Bernardino da Costa Lopes (1859-1917) 
Nasceu em Rio Bonito, Rio de Janeiro. Escolhia sempre para temas de suas poesias, os motivos simples e delicados, que apresentava como verdadeiros cromos".
Fonte:
CRUZ, Marques da. Seleta Portugês Prático  - 1a e 2a séries - Curso Ginasial. 9. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1953, p. 29.

"Cena rústica

Caíra o sol no horizonte!
A rapariga travêssa
Vai, de cântaro à cabeça
Pelo caminho da fonte.

Fumega o rancho. Defronte
Azula-se a mata espêssa...
Antes, pois, que a noite desça,
Voam as aves ao monte.

Aponta o Vésper, brilhante...
E o largo silêncio corta
Uma toada distante...
Irado, enxotando o galo,
Está um homem na porta,
Dando ração ao cavalo."

Fonte:
CRUZ, Marques da. Seleta Portugês Prático  - 1a e 2a séries - Curso Ginasial. 9. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1953, p. 29.

3. Já no ano de 1954, no livro de  Azevedo Correa, a Antologia para o Curso Primário e Admissão ao Ginásio em sua segunda edição também aparecem duas poesias de B. Lopes: Berço e Cromo.

No entanto, antes de apresentar as poesias, apresenta um breve comentário sobre B. Lopes:

"Bernardino da Costa Lopes, cujo nome literário é apenas B. Lopes, nasceu e morreu em Rio Bonito (Estado do Rio), tendo vivido de 1859 a 1940.
Deixou-nos: Cromos, Brazões, Sinhá Flor, etc.." (p. 184)

BERÇO

Recordo: um lago verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um postilhão e um carro
De três juntas bovinas que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.

Havia a escola, que era azul e tinha
Um mestre mau, de assusutador pigarro...
(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha,
Quando estas coisas tão singelas narro?)

Seu Alexandre, um bom velhinho rico
Que hospedara a princêsa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra...

Com seu nome de amor, Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança,
Da minha pobre e pequenina terra!
                                                        Cromos

CROMO

Na alcova combria e quente,
Pobre demais, se não erro,
Repousa um moço doente,
Sôbre uma cama de ferro.

Pede-lhe baixo, inclinada,
Sua mulher - que adormeça,
Em cuja perna curvada,
Êle reclina a cabeça...

Vem uma loura figura
Com a colher da "tintura",
Que êle recusa num - ai!

Mas o solícito anjinho,
Diz-lhe com sorriso e carinho:
- "Bebe, que é doce, papai!"
                                                 Idem

Fonte:
CORREA, Azevedo, Antologia para o Curso Primário e Admissão ao Ginásio. 2. ed. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1954, p. 184-185



5 comentários:

  1. Primeira poesia que minha mãe me ensinou.

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  2. Que bacana, Isis! Fico feliz em partilhar de uma recordação tão bacana!

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  3. A poesia "Berço é de uma sensibilidade notada em poucas de nossas páginas literárias.

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  4. Sou da terra de B. Lopes, precisando de alguma informação sobre Rio Bonito-RJ gostaria de ajudar.
    Abraço a todos

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