Mãe, desse ovo vai nascer um pintinho?

Hoje resolvi fazer uma sopa de agnoline pra aproveitar o friozinho e a chuva.
Preparei a sopa e ao invés de colocar ovos batidos na sopa, decidi fazer ao modo de ovo poché.
Para quem se interessar em fazer ovo poché: TUDO GOSTOSO 

Foto meramente ilustrativa.

E, ao servir para Othon o ovo, eis que vem a pergunta:
- Mãe, desse ovo sairá um pintinho?
Respondi prontamente que não.
E ele continuou perguntando:
- Como assim? E como eles (os produtores/vendedores) sabem que não vai sair pintinho? E como esses ovos que nós comemos não terão pintinhos? Como você sabe na hora de comprar que não nascerá pintinhos?
A medida que as perguntas iam sendo ditas, eu já estava quebrando a cabeça pensando em como responder de forma fácil e convincente.
Tentei explicar que as galinhas eram separadas em dois grupos. um grupo para colocar os ovos - as poedeiras - e as que seriam as chocadeiras - aquelas de cujos ovos nasceriam pintinhos, pois estes eram fecundados.
- Como assim fecundados? O que é isso?
Respondi que os ovos precisavam ser fecundados por um galo para que nascessem pintinhos. Aí sim, tudo se complicou de vez. Pois ele queria saber o quer era"fecundado". Tentei simplificar. Expliquei que para nascer um pintinho - para o ovo fecundar, significava que a galinha precisava ter um galo por perto. Quando terminei a explicação, percebi que não fora muito convincente. Mais enrolara do que explicara. E já estava me preparando para a revoada de novas perguntas, quando veio ao invés de uma pergunta, uma constatação incrível.
- Ah! Entendi! Ela (a galinha) que quer ter pintinhos precisa de um pai (o galo) pra ajudar a cuidar dos pintinhos. E as outras não querem. Entendi! Ela só vai ter pintinhos se tiver um pai pra dividir as tarefas.

E continuou comendo...
E, respirei aliviada.
Mais uma da série: criança tem cada uma.

Como as crianças vêem a lua

Othon estava desenhando a lua e resolvi fazer algumas perguntas para ele.
Na época ele ainda não tinha dois anos.

O que o Othon está desenhando?
- Lua.
O que o Othon vai fazer na Lua?
- ava (água)
Como é a Lua?
- apito (rápido)
A lua é grande ou é pequena?
- é pequena não
A lua é pequenininha, pequenininha?
- Não, é gande (grande)
Onde fica a lua?
- no peto (preto)

A percepção dele com a lua foi muito interessante. Uma mistura de realidade, com a ficção aprendida das histórias e ainda mais um pouco de imaginação.

Combinação perfeita para boas histórias!

"Mãe? Nós moramos na América Latina?"

A diferença existente entre gerações é muito grande. Há saltos exponenciais em termos de conhecimento e acesso aos bens culturais.
Uma pergunta de meu filho - com 7 anos - me fez refletir sobre a diferença da apropriação do conhecimento geográfico, por exemplo.
A história seguinte se desencadeou porque, minutos antes, ele conversara pelo whatsapp com o irmão que está na Holanda. Após mandar um recadinho, foi para o quarto.
Ainda no quarto ele perguntou em voz alta: "Mãe? Nós moramos na América latina?".
Antes que terminasse de responder que sim, ele veio do quarto com um livro debaixo do braço. No meio da sala o abriu e desdobrou o mapa que havia em seu interior.

Assim que localizou a América Latina perguntou se a Holanda ficava na Europa. Respondi que sim. Imediatamente traçou uma linha imaginária entre a Holanda e o Brasil e balbuciou: "Nossa! A Duda vai viajar tudo isso? E o Thiago já está lá. que longe!". 

E continuou olhando o mapa...

"Nossa, olha que legal a bandeira da Holanda é vermelha, branca e azul."

"Cazaquistão? É um país também? Nossa! Que diferente a bandeira?

"A Holanda fica na América Latina também, mãe?" Silêncio! "Não! fica na Europa".

E continuou olhando o mapa...

De repente, mais uma pergunta: "Mãe? O Papai Noel mora no Pólo Norte mesmo?

Ainda pensava na resposta e veio outra pergunta: "Mãe? Por que essa cidade se chama cidade proibida?"

E eu, pasma, diante de tamanha habilidade em localizar lugares e inferir sobre personagens e situações e perdida diante de tantas perguntas ficava a refletir.

Na idade dele, eu mal sabia que morava no Brasil. E continuei minha reflexão em quanto o acesso aos bens culturais, a livros, às informações propiciam esse salto geracional.

E eu que só fui entender na prática o conceito de ilha e continente quando me mudei pra Floripa.

"Como assim? Feliz?"

Hoje retornei à escola em que trabalho. Sou professora e tenho um filho que estuda na mesma escola. Ele está no segundo ano do fundamental I.
No ano passado, nossa rotina era interessante. Íamos juntos pela manhã na escola. Ao términa da aula, às 11:45 e o aguardava em minha sala. Em seguida, íamos juntos almoçar.
E, com meu afastamento da escola e minha dedicação aos estudos, tive muito menos tempo com ele.
Ele passava a maior parte do tempo com o pai.
Na segunda-feira, voltei à escola.
Acordamos cedo, tomamos café, nos organizamos e fomos pra escola.
Chegando lá, nos despedimos.

Ao final da aula, às 11:45 ele veio até minha  sala ajudou a organizar a sala, apagar  o quadro entre outras coisas. Enquanto fazia isso falava muito, saltitava, saltitava e falava... E falava....
Saímos da escola e no caminho para o almoço cansada com tanta energia, perguntei:
"Você estava assim nas tuas aulas?". Ele parou, desceu da mureta em que estava e respondeu:
"ASSIM COMO? FELIZ?"
Sim, ele estava muito feliz e eu também...

"Mãe, ler é natural?"

Othon interrompe a leitura e pergunta: Mãe, ler é natural?
Respondo: é, meu filho, ler é natural.
E penso: infelizmente, não é natural pra muitos.

"Coitadinha da Natureza"

No final de semana, estava indo à casa de uma amiga e Othon estava comigo no carro. Quando ele olhou ao redor e exclamou:
- COITADINHA DA NATUREZA.
Eu perguntei: COMO?
Pois não entendera o contexto da frase.
Então ele explicou:
- Olha, mãe! Coitadinha da Natureza, quase não tem lugar pra ela.
Perguntei novamente: Como assim?
- É mãe, olha! Não tem quase nenhum lugar pra Natureza. Não tem árvores, não tem nada. Os passarinhos estão sentados ali naquele arame e nos fios. E se nós falássemos com os homens que constroem prédios para que eles não fizessem mais, daí a natureza ficaria bem feliz.


Fonte da imagem: https://mobilidadehumana.wordpress.com/2013/07/19/os-predios-da-cidade/

Olhei ao redor e pensei que ele tinha razão. A região, há quinze anos, tinha casarões com grandes pátios cobertos de grama e jardins com muitas flores e frutas. E, hoje, um emaranhado de construções. Nenhuma árvore...

"Se eu não posso ir à escola sozinho, também não posso me secar"

A gente tem que ficar antenada em tudo o que nossos pequenos falam.

Fonte da imagem: Internet
Normalmente, após o banho um adulto seca o pimpolho...
Como achamos que está na hora de dar autonomia pro filhote, hoje quando ele terminou o banho e gritou:
"Já estou pronto, alguém vem me secar".
Respondemos:
"Se seca!"
Hou um silêncio...
Mais um pouco de silêncio e a resposta:
"Vocês têm que me secar!!!!!"
Já estava erguendo a voz e preparando-me para uma resposta, quando resolvi perguntar:
"Por que alguém te que te secar".
A responta veio como um raio e em um tom zombeteiro:
"Se eu não posso ir pra escola sozinho, também não posso me secar sozinho".
Ninguém respondeu. Ele só ouviu um:
"Se seca logo!"
Criança tem cada uma!

Comédia? Achei que fossem pessoas médias

Neco e Othon sentaram-se no sofá para procurar algo para assistir no NetFlix.

- Acho que vou procurar um filme de comédia, você adora esse tipo de filme.

- Adoro? Comédia?

- É, você gosta!

- O que é comédia?

- São filmes engraçados, pra gente rir.

Silêncio...

- Ahm, achei que fossem pessoas médias.

Othon e seus planos para o futuro

Hoje durante o almoço estávamos falando sobre os que teríamos para fazer em 2017.
Othon então pediu para falar sobre os planos dele.
Planos do Othon para o futuro:
"Depois que você e o papai ficarem bem velhinhos e morrerem eu vou pegar os meus filhos e colocar na minha nave espacial e vamos atravessar a via láctea."
Perguntei ainda se ele cuidaria os filhos ou seria a mãe? Ele respondeu:
"EU!!!!! Eu sou responsável por eles!! Eu sou o PAI!!!"
Morri! kkkk

"Mãe! As meninas soltam pum?"

A pergunta "Menina solta pum?" tem sido repetida constantemente por Othon.
A primeira vez que ele perguntou-me, há meses atrás, respondi que sim. As meninas também soltam pum. Ressaltei que o organismo da mulher e do homem são iguais, funcionam da mesma forma.
Contudo, a pergunta persiste e, quando uma criança insiste em uma pergunta é porque a resposta não foi satisfatória.
Tentei entender porque minha explicação não surtira efeito.
A primeira prova veio ao observar um grupo de meninos brincando de arrotar , disputavam entre eles quem era o "maior peidador". A mesma disputa dificilmente acontecerá com meninas, pois são criadas a não terem "problemas com gazes". São ensinadas a irem ao banheiro, nada de soltar um pum na frente dos outros:

Para as meninas (mulheres) soltar pum somente na clandestinidade. É um ato solitário.

"Que feio", "parece um menino", "menina não faz isso", "Que vergonha", "isso não se faz na frente dos outros"
Há muitas outras represálias sofridas pelas meninas. Não soltar pum é ser angelical, uma princesinha.













Já para os meninos não há tanta restrição.
Há disputadas, há concorrência. A repreensão é branda, "é engraçadinho" e, normalmente, apresenta um tom de humor.
Fui dar uma olhada nas imagens, e as imagens de pum associadas às mulheres são sempre solitárias.

Já para os meninos (homens) a grande maioria das imagens apresentam tom irônico.



Mas com as meninas o tom é outro.
Há um livro que tenta desconstruir isso. Vale a leitura!


Bem, com relação ao Othon, ainda não cheguei a outra conclusão que não seja a questão cultural, porque da parte fisiológica, ao que me parece, ele entendeu bem.
Outra dica de leitura para as crianças...

Outra sugestão:


E essa...

E mais essa:


Que tal essa dica para 2017?


E a imagem a seguir? Controversa?

"Você vai sentir saudades da escola?"

Eu e Othon conversávamos sobre a escola que frequentara nos últimos 5 anos e a nova escola.
A conversa estava animada. Ele contando do que gostava de fazer, do que não gostava.
Falou das dificuldades com alguns colegas. Dois em especial que pegavam o chinelo dele.
Ele adora ir de chinelo para a escola e quando vai ao parque de areia, prefere brincar descalço. Mas dois de seus colegas insistem em pegar um dos chinelos e esconder ou ficar jogando um para o outro e fazê-lo de bobo. E assim a conversa foi.
Por fim, perguntei a ele se ele sentiria saudades da escola. Eis a resposta:
"Não sei! Eu ainda não saí dela".

"Anjinho da guarda cuida de toda a nossa família e de todo o planeta Terra..."

Todas as noite fazemos com Othon uma oração antes de dormir:

"Anjinho da guarda, meu bom amiguinho, me cuida e me protege. Me leve sempre pro bom caminho.  Amém.
Anjinho da guarda, cuida de toda a nossa família e de todos os nossos amigos. Amém".

Hoje, contudo, Othon acrescentou mais:
"Anjinho, cuida também de todas as pessoas do planeta Terra.
Cuida também de todos os planetas.
Cuida que nenhum planeta bata no outro, senão os pedaços vão bater no planeta Terra
e o planeta Terra vai quebrando, quebrando e indo pro Sol.
Cuida pra que as pessoas não morram. Dos animais não tem 'proglema' porque eles sempre sobrevivem. Deixa um pedaço do planeta Terra pra nós.
Se um pedaço grande outro planeta grande bater na Terra a gente morre.
Amém"