19 de abril de 2011

Crime premeditado



Assassino não atirou a esmo, dizem ex-colegas


Para eles, atirador procurou em vítimas características específicas
Amigos de colégio se reúnem e lembram como Wellington Oliveira era "zoado" pela turma da escola

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"A gente chorou pensando que Wellington matou as crianças em represália pelo que aconteceu quando estudávamos juntos", disse ontem à Folha o hoje assessor cultural Thiago Costa da Cruz, 23, que conviveu com ele na 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries na escola Tasso da Silveira, onde ocorreu o massacre.
Um grupo de cinco amigos desde os tempos de colégio reuniu-se em um churrasquinho nas imediações da Tasso. Lembraram-se de como o garoto esquisito era "zoado" pela turma da escola, em especial pelas meninas.
"Estávamos na 7ª série, os hormônios a milhão, e uma das meninas mais malvadas, a C., ficou pegando no Wellington, se esfregando, e dizendo "vem cá". O Wellington entrou em pânico. Gritava "não", "não", "não", desesperado. Ele empurrava a C. e ela gritava cada vez mais alto que queria ficar com ele. Foi assustador", diz Thiago, espécie de porta-voz do grupo.
O ataque de C. contra Wellington causou surpresa, pois ela também era uma vítima da classe por estar longe de ser das meninas mais bonitas, e por ser gordinha. "Mas ela sabia que zoar com o Wellington era um jeito de ficar do mesmo lado dos bonitos e inteligentes da classe."
Ninguém gostava de Wellington, dizem os antigos colegas, a não ser Bruno, um menino fanho e de voz fina, com a cara do personagem cômico Mister Bean. Bruno era destroçado pelo meninos, que o chamavam de "bicha".
A dupla Wellington e Bruno era ridicularizada todo o tempo, inclusive com segredinhos que todos compartilhavam, menos eles. Para compensar, os dois fingiam possuir também segredos e maldades sobre a classe. Para evidenciá-los, soltavam gargalhadas fora de tempo e lugar. "Parecia coisa satânica, mas era só um jeito de se defenderem", diz Thiago.
O grupo dos cinco jovens debruçou-se sobre as notícias na internet. Mas desligaram o computador quando um dos amigos notou a semelhança física entre as vítimas e os antigos colegas. "A gente teve certeza de que ele não matou a esmo.
Wellington procurou em cada vítima uma característica pessoal das pessoas com quem ele teve uma rixa na escola. A L., que falava direto pra ele "Sai daí, seu feio", quando queria sentar em um lugar que ele estivesse ocupando, é idêntica a uma menina que ele matou. Outras meninas têm um olho, uma boca, um jeito que parecia muito com as meninas da nossa classe", afirma Thiago.
"Tinha um menino, que ele poupou, dizendo "Fica frio, gordinho, que eu não vou te matar". Pois bem, esse gordinho é a cara, cuspida e escarrada, do R., que mora aqui no beco. Era assim que toda a classe chamava o R., que de fato era gordinho."
"Nós temos certeza de que, quando subia aquelas escadas, ele viajava no tempo, até dez anos atrás, quando estudávamos juntos", afirma.
A cor das paredes ainda é a mesma, bege por cima e, embaixo, mostarda. O mesmo primeiro andar, a mesma 7ª série das piores chacotas. O mesmo turno matutino. "Nós que devíamos ter morrido. Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos", diz, entre lágrimas, Thiago, ele mesmo discriminado nos tempos de escola por ser homossexual.

Colaborou CRISTINA MORENO DE CASTRO




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