Secretaria de Estado da Educação
ESTADO DE
SANTA CATARINA
Diretoria
de Educação Básica e Profissional
PROGRAMA
CORREÇÃO DE FLUXO
2011/2012
- JUSTIFICATIVA/ FUNDAMENTAÇÃO
As
Gerências Regionais de Educação (GERED) realizaram levantamento do quantitativo
de estudantes com mais de 13 anos que frequentam os quintos e sextos anos
(séries) na rede estadual de educação de Santa Catarina no ano de 2011. A
Diretoria de Educação Básica e Profissional (DIEB), de posse destes dados, constatou,
então, relevante distorção idade/série decorrente de diversos fatores: ingresso
tardio à escola – sobretudo em comunidades rurais com dificuldade de acesso, a deficiência
no transporte dos estudantes, o ingresso à educação básica postergado por ser
portador de necessidade especial e ter frequentado espaços específicos como
APAES e, principalmente, na maioria dos casos, a distorção em virtude da
retenção/reprovação. Diante disto, a Secretaria de Estado da Educação (SED),
através da DIEB e da Gerência de Ensino Fundamental (GEREF), ponderou sobre a
necessidade de oferecer atendimento alternativo, com terminalidade para o
Ensino Fundamental, para estudantes com distorção idade/série, com vistas ao
sucesso escolar no ano de 2012, criando, assim, o “Programa de correção do fluxo idade/série: recuperação dos saberes”, cujo
objetivo é possibilitar o ingresso, em 2013, no Ensino Médio, bem como a
permanência com aproveitamento e êxito na aprendizagem.
Do
ponto de vista de uma fundamentação teórico-metodológica, este Programa
aporta-se nos pressupostos da Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina
(1998) e demais tomos posteriores, bem como, da ótica legal, subsidia-se nos
Pareceres CNE/CEB/MEC 07, 11 e 12 de 2010, nas Resoluções CNE/CEB/MEC 04 e 07
de 2010 e demais pareceres e resoluções do Conselho Estadual de Educação que
versam sobre o assunto.
A
título de reflexão, focando a reprovação como a principal causa da distorção
idade/série, cabe lembrar que estudos da sociologia da educação e da pedagogia
demonstram que a prática da retenção pura e simples do estudante em uma dada
série letiva é consequência de vários fatores, isolados ou em conjunto e é
gerada por dificuldades ligadas à questão da aprendizagem anterior, à ausência
do trabalho docente em uma dinâmica processual, em rede, aulas
desinteressantes, monológicas, expositivo-dialogadas, sistema de avaliação
classificatório, excludente, questões de ordem psicológicas e, sobretudo,
problemas nas relações verbais e pedagógicas entre professor/professor, professor/estudante e
estudante/estudante, entre outros. Os estudiosos e a empiria são unânimes em
asseverar que a reprovação é uma experiência desnecessária, sobretudo como se
estabeleceu na cultura escolar, porque, além de ser um atraso na vida acadêmica
do estudante, influencia negativamente na sua autoestima.
É
importante compreender que todos podem aprender e empreender, quer professor,
quer estudante, no entanto é preciso romper paradigmas e trabalhar para a
desconstrução do estigmas que somente o estudante é responsável por seu
fracasso.
O pesquisador Bernard Charlot, em sua obra Relação com o saber formação de professores
e globalização (2005), explicita que a relação com o saber é uma condição
que se estabelece desde o nascimento, uma vez que "nascer significa ver-se submetido à obrigação de aprender".
A condição humana exige que seja feito um movimento, "longo, complexo e nunca acabado", no sentido de se
apropriar (parcialmente) de um mundo preexistente. Essa apropriação obrigatória
desencadeia três processos: de hominização (tornar-se homem), singularização
(tornar-se exemplar único) e socialização (tornar-se membro de uma comunidade).
O ato de construir-se e ser
construído pelos outros é a própria Educação, entendida de forma ampla, em
situações que ocorrem dentro e
fora da escola. É por meio de suas experiências que a criança, toma contato com
as muitas maneiras de aprender. Ela pode adquirir um saber específico, no
sentido de compreender um conteúdo intelectual (a linguagem escrita, a linguagem
matemática, a história da arte), pode dominar um objeto ou uma atividade (como
caminhar, amarrar os sapatos, nadar) e pode aprender formas de se relacionar
com os outros no mundo (saber cumprimentar as pessoas, ter boas maneiras à mesa).
Nesse
ir e vir da relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo, se forma o
desejo de aprender. É esse desejo que propulsiona a criança em direção ao
saber. Em pesquisas de campo, Charlot, anteriormente citado, e sua equipe
identificaram que esse "direcionar-se
para o saber" pressupõe um movimento de
mobilização - e não simplesmente de motivação. "O conceito de mobilização se refere à dinâmica interna, traz a idéia
de movimento e tem a ver com a trama dos sentidos que o aluno vai dando às suas
ações", explica Jaime Giolo, professor titular da pós-graduação em
Educação da Universidade de Passo Fundo (UPF) e estudioso do pensamento de
Charlot. "A motivação, por sua vez,
tem a ver com uma ação externa, enfatizando o fato de que se é motivado por
alguém ou algo."
Convém considerar que a
apropriação do conhecimento é um direito social previsto pela Constituição
Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDBEN
9394/1996, Estatuto da Criança e Adolescente, portanto é responsabilidade do
Estado propiciar condições para que este direito seja garantido com qualidade.
A correção de fluxo, ou aceleração de estudos para estudantes com distorção
idade/série, é garantida no Artigo 24, inciso, V alínea b da LDBEN 9394/1996.
Com
este entendimento, passa-se a adotar uma postura profissional em que se faz necessário
produzir condições específicas para a aprendizagem destes meninos e meninas que
têm a singularidade de estarem no limiar da infância e da juventude, que têm
dificuldade de se identificarem nas metodologias tradicionais de ensino e
aprendizagem e que não concebem os conteúdos escolares como parte integrantes
de suas vidas. Desta forma a relação com os saberes exige um novo movimento de
tempo-espaço, de metodologia diversificada e de foco num currículo com
significado, pois só com estas condições se oportuniza a conclusão do Ensino
Fundamental com as competências necessárias a continuidade dos estudos.
2.
OBJETIVOS
·
Corrigir
o fluxo idade/série de 100% dos estudantes do Ensino Fundamental.
·
Recuperar
os saberes que possibilite terminalidade deste contingente no Ensino Fundamental e ingresso no
Ensino Médio com condições de permanência e aproveitamento.
3.
COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES
3.1 SED – Elaborar
e organizar o Programa de correção de fluxo idade/série a ser cumprido por
todas as escolas; designar a coordenação do Programa às Gerências Regionais de
Educação sob a responsabilidade do Gerente de Educação, do Supervisor de
Educação Básica e Profissional e Integrador de Ensino Fundamental; elaborar e
coordenar formação centralizada dos professores participantes do programa e demais
profissionais envolvidos no processo; elaborar e organizar a produção de materiais
didáticos específicos.
3.2 GEREDs –
Coordenar a implantação do programa correção de fluxo nas GEREDs; Realizar
acompanhamento sistemático do programa correção de fluxo através de reuniões de
avaliação, visitas às escolas, participação em conselhos de classe; implementar
e acompanhar as orientações e trabalhos pedagógicos emanados do órgão central;
participar dos encontros pedagógicos de estudos e avaliação convocados pelo
órgão central; encaminhar ao órgão central relatório bimestral avaliativo das
turmas de cada escola, por GERED.
3.3 UNIDADE ESCOLAR – Reestruturar seu
PPP constando o programa de correção de fluxo idade/serie; desenturmar os estudantes
com 13 anos ou mais frequentando o 5º e 6º ano em 2011 e enturmá-los em turma
de correção de fluxo; elaborar diagnóstico de cada estudante eletivo à correção
de fluxo, tendo por base o currículo descrito no documento “Orientação Curricular com foco no que ensinar: Conceitos e Conteúdos
para a Educação Básica-2011”.
O relatório avaliativo deve estar
pautado nos seguintes itens:
a) Quantos
dominam a escrita?
b) Quantos
leem e escrevem?
c) Quantos
dominam os cálculos?
d) Após o
diagnóstico dos estudantes elegíveis para o programa a escola organizará a enturmação
para que num período de um ano estes concluam o Ensino Fundamental. Viabilizar
espaço físico (sala) para o funcionamento da(s) turma(s).
3.3.1
O
aluno com deficiência
O aluno com
deficiência não será eletivo para o Programa de Correção de Fluxo. Após estudos
com estabelecimento explícito de critérios produzidos pela Fundação Catarinense
de Educação Especial, estes alunos poderão ser incluídos em tempo oportuno no
programa.
3.3.2
A
coordenação do programa na escola será desenvolvida por:
a) Diretor
da Escola
b) Assistente
Técnico Pedagógico (40 horas)
c) Orientador/Supervisor/Administrador
escolar (Especialista)
A
coordenação Pedagógica deve estar a cargo do ATP ou Especialista em assuntos
Educacionais e nas escolas onde não houver este profissional a cargo do
Diretor. Compete a este coordenador assegurar o planejamento coletivo, em que as demais áreas do conhecimento se
envolvam e contribuam com textos e materiais que serão à base do trabalho de
leitura e escritura desenvolvido com o estudante, articulando todas as disciplinas
inerentes ao Ensino Fundamental. O coordenador pedagógico deve organizar
estudos sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem auxiliando os
professores em suas necessidades para o sucesso do projeto.
3.3.3
Professores
Os
professores que atuarão diretamente com as turmas de correção de fluxo serão licenciados
nas seguintes disciplinas de Língua
Portuguesa, Matemática, Artes e Educação Física e, preferencialmente
efetivos.
A
escolha por estas disciplinas se deve ao fato de que a escrita e a leitura são
aspectos fundamentais da Língua Portuguesa e igualmente importantes para a
formação inicial dos educandos possibilitando a compreensão, a interpretação e
a apropriação de saberes das áreas do
conhecimento. O raciocínio lógico, presente
no ensino da Matemática, possibilita a compreensão o entendimento do mundo nos
aspectos práticos da vida cotidiana.
As
disciplinas de Artes e Educação Física permitem o desenvolvimento dos elementos
motores e artísticos que facilitam a compreensão e apropriação do conhecimento.
É importante salientar que, embora estejam previstas estas disciplinas
curriculares, os conteúdos deverão ser desenvolvidos a partir da perspectiva
interdisciplinar, com planejamento das aulas a partir de Projetos ou Atividades
de Aprendizagem que envolvam os
conteúdos curriculares para o Ensino Fundamental. Por isso, os professores das
demais disciplinas deverão atuar no projeto, especialmente no planejamento.
- Matriz Curricular – 2231
10 horas para Matemática/2 horas aulas de
planejamento coletivo;
10 horas para Língua Portuguesa/2 horas aulas de
planejamento coletivo;
03 Artes/2 horas aulas de planejamento coletivo;
02 Educação Física/2 horas aulas de planejamento
coletivo
Obs: As 02 aulas destinadas ao planejamento
coletivo são, como o próprio termo especifica, para planejamento articulado
entre os professores da turma, portanto devem acontecer fora do horário das
aulas.
DISCIPLINAS |
CARGA
HORÁRIA ALUNO |
LÍNGUA PORTUGUESA |
10 |
MATEMÁTICA |
10 |
ARTES |
03 |
EDUCAÇÃO FÍSICA |
02 |
TOTAL |
25 |
Matriz
2256 – Matriz Planejamento - Curricular
CARGA HORÁRIA PROFESSOR |
DISCIPLINAS |
02 |
LP |
02 |
MTM |
02 |
EF |
02 |
Artes |
08 |
|
Simulação de horário escolar:
Atenção:
Máximo de duas aulas diárias por disciplinas, isto significa dizer, não poderá
haver três aulas seguidas ou alternadas da mesma disciplina por dia da
semana.
2ª feira |
3ª Feira |
4ª Feira |
5ª Feira |
6ª Feira |
LP |
MTM |
Artes |
MTM |
MTM |
LP |
MTM |
LP |
MTM |
MTM |
MTM |
EF |
LP |
LP |
Artes |
MTM |
LP |
MTM |
LP |
LP |
Artes |
LP |
MTM |
EF |
LP |
- COMPOSIÇÃO
DAS TURMAS
As turmas serão formadas preferencialmente pelos alunos já matriculados
na Unidade Escolar. Todos os alunos desenturmados de 5º ou 6º anos, do EF de 09
(nove) anos e dos de 6ª série do EF de 08 (oito) anos formarão uma única turma
com terminalidade de Ensino Fundamental, equivalente ao 9º ano, e /ou, 8ª
série.
Número de alunos por
sala
Mínimo: 12
Máximo: 25
Idade: 13 anos ou mais para quem estiver no 5º e 6º ano do EF de 09 anos
e no 6º série do EF de 08 anos.
- FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EQUIPE
- Cursos e ou seminários de formação para os professores
das disciplinas curriculares das turmas, coordenado pelas GEREDs;
- Curso e ou seminários de formação para a equipe
pedagógica e administrativa das escolas que terão as turmas, coordenado pelas
GEREDs;
- Oficinas de atividades pedagógicas com os profissionais
envolvidos;
- Reuniões periódicas seguindo o fluxograma: SED –
GERED – ESCOLA – POFESSORES;
- Pensar uma política efetiva de formação e
metodologia para os anos iniciais do EF – compromisso em alfabetizar
efetivamente as crianças até o terceiro ano do Ensino Fundamental e solidificar
a alfabetização até o 5º ano, sem retenção. (Sugestão - transformar em Projeto
de Lei).
7 – CURRÍCULO E CONTEÚDOS:
O trabalho
pedagógico na correção de fluxo focará as habilidades de leitura, produção
escrita e oral e cálculo; em outras palavras, as quatro disciplinas
constituintes do programa centrarão esforços nesta direção e todas as dinâmicas
didático-pedagógicas, articuladamente, ensejarão a complexificação das
habilidades em baila.
O planejamento deverá ser articulado
com e entre os quatro professores discutindo coletivamente a postura e a ação
docente mais qualificada para que o estudante aprenda a ler, a falar em
diferentes contextos sociais de uso da oralidade, a escrever (em) para os
diferentes contextos de uso da escrita e a calcular, isto é, possibilitar a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos
valores que fundamentam a sociedade: consolidação da alfabetização com letramento.
É inevitável, portanto, o rompimento com o currículo real centrado em
informações descontextualizadas e que visam somente à reprodução de um saber
pautado nas verdades que a escola presume elegíveis para a formação do
“estudante”.
Para isso, a SED está produzindo um
elenco de “expectativas de aprendizagem” para o estudante do programa de
correção de fluxo a ser remetido às GEREDs quando do encontro SED/DIEB/GERED em início de fevereiro de
2012.
Estas “expectativas” balizarão o
planejamento do trabalho docente e, a partir delas, o grupo de professores
produzirá o planejamento coletivo para as atividades pedagógicas no ano de 2012
e, semalmente (nas 02 aulas para planejamento), o plano do trabalho pedagógico
semanal.
8.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Deve diagnosticar a
aprendizagem através de atividades de verificação a fim de levantar dados para,
a partir deles, reorganizar o processo
pedagógico rumo ao êxito do estudante. Dever ser realizada por todos os
envolvidos, incluindo alunos e pais, a partir das atividades realizadas e dos
objetivos alcançados. A GERED e a escola devem organizar formas de relatar
(registrar) o processo de aprendizagem de cada estudante. O foco se dá no
diagnóstico do processo pedagógico para que se tome a(s) decisão(ões) adequada(s)
no sentido de que o estudante tenha formação básica ensejada no segundo
parágrafo do item 07, anteriormente apresentado.
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