28 de julho de 2014

Des-ventura de um brasileiro em Clermont-Ferrand (França)

Viajar pelo mundo é a possibilidade de conhecermos outras culturas, 

interagindo com elas. 

Sem a interferência de outros meios ou até mesmo de outras opiniões. 

Contudo, temos uma curiosidade - quase infantil - de imaginarmos 

o que os outros países pensam de nós - brasileiros.  
...
É interessante pensar em como as culturas são estereotipadas

 por nós, brasileiros e também como sofremos com os esterótipos. 

Para muitos ainda somos vistos via ideia do colonizador. Seres selvagens, inferiores etc.

Como se o fato de descender do povo indígena fosse algo ruim - pena termos perdido

nossas raízes, termos sido quase que "aculturados" pelos portugueses. 





Uma visão pré-concebida - ou até mesmo preconceituosa - e estereotipada 

de determinada cultura anda de braços dados com o desconhecimento.

O relato a seguir demonstra claramente o quanto somos desconhecidos.


"Estávamos – eu e os brasileiros – andando pelas ruas de Clermont quando 

alguém falou “ah, filho da puta”. E um comentário ecoou: eu entendi isso. 

O estranho foi que a réplica não veio de ninguém do grupo. 

Olhamos pro lado e vimos 3 pessoas: uma francesa 

descendente de franceses, um francês descendente de argelinos, 

et voilà, uma portuguesa.

Acho que ela vinha de uma linhagem real, da mais alta Corte Portuguesa. 

Enfim, o importante é que ela tinha sangue azul.

 “Olha que legal, mais uma brasileira em Clermont!” 

Falaram os brasileiros. A resposta veio carregada de desprezo: 

eu não sou brasileira, sou portuguesa. Eu não sou indigente como vocês.

 – RISOS DA PLATÉIA -.

Nesse momento alguém chamou a rapariga de bigoduda, 

e aí a festa ficou boa...

Perguntamos o quê a fazia pensar dessa forma, e o que a tornava

tão superior assim. Ela disse algo como “nós colonizamos o Brasil. 

Vocês são selvagens, e ignorantes”. Argumentamos que o fato de o 

Brasil ter sido submisso economicamente a Portugal durante séculos

 não justificava o fato. E convenhamos, se fossem tão superiores 

assim não teriam usado nosso ouro pra edificar igrejas haha. 

Mas como bons brasileiros usamos a ironia e o tempo a nosso favor. 


Chegamos na balada e adivinhem qual foi a primeira coisa que

 a portuguesa-coxinha falou aos seres inferiores e colonizados? 

Me ensinem a dançar como os brasileiros!!! 

Quando tocou música brasileira, adivinhem quem sabia a letra todinha? 

A portuguesa! 

Adivinhem quem achou que Macarena fosse uma música típica do Brasil? 

A portuguesa! 

Ai como eu adorei esse momento.

 Engraçado né fofa, ao mesmo tempo que você nos chama de 

inferiores e ignorantes adora o modo como dançamos, como rimos, 

como somos animados.

Gosta de nossas músicas, nossas bebidas, nossas praias. 

Acha tudo lindo, tudo quente, tudo verde. 

Não é um pouco contraditório gostar de tanta coisa assim, e ainda 

se achar superior por causa de uma herança histórica? 

Achar que somos indigentes? 

Você realmente conhece o significado dessa palavra? 

Ou o que é pior, achar que o Brasil é realmente só 

carnaval, beleza natural, Amazônia? Acho que podias deixar

 Fernando Pessoa um pouco de lado e conhecer Jorge Amado, 

Érico Veríssimo, Ariano Suassuna. Ou quem sabe fazer um 

tour pelo Grande Sertão Veredas, já ouviu falar? 

Melhor, podes alugar uma Nau e conhecer 

toda a costa brasileira. Provar churrasco, tainha, tapioca, 

mangaba, feijoada, acarajé, brigadeiro, pinhão, quentão, 

pé-de-moleque, rapadura. 

Cantar Elis, Chico, Caetano, Marisa, 

Teló, Valesca, Catra, Gustavo Lima. Dançar Frevo. 

Descer até o chão com funk. Sambar. Dançar Chula. 

Tirar uma selfie na Chapada Diamantina, no Elevador Jorge Lacerda, 

no Monte Roraima, na Ópera de Arame, na Ponte Hercílio Luz. 

Podes fazer tudo isso, conhecer tudo isso e muito mais, 

só não podes permanecer com essa 

ideia tosca e retrógada sobre mim, sobre nós. 

Nossa cultura é rica, é linda. 

Joga no google, você vai ver."


Autor: Fauston Della Flora

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