Voltar à casa na qual vivi por mais de 20 anos me permite recordar muitas coisas.
Rever pessoas e rememorar memórias.
A s memórias são acionadas por ruas, casas, pessoas, músicas e flores.
É o caso dessa rosa. Ela é única, tal qual a do Pequeno Príncipe.
A roseira está em nossa família há mais de vinte anos.
Certo dia minha mãe apareceu com várias mudas de roseira.
Chegando em casa ela me disse: "O seu Osvaldo disse que era pra você plantar. Você tem sorte com rosas".
Seu Osvaldo era um senhor de andar calmo e rosto sereno que trabalhava no hospital e no colégio - era o zelador, jardineiro, o faz tudo.
Na escola, quando brincávamos no pátio dos fundos, era ele quem nos "lembrava" que estava na hora de ir para a sala de aula.
Minha mãe trabalhava no hospital e ele quem cuidava do jardim.
Na época, as pessoas que estavam hospitalizadas elogiavam que ao abrir as janelas dos quartos era possível ver as muitas roseiras espalhadas pelo pátio.
Minha favorita era essa.
Seu Osvaldo promete-me que assim que fosse a época ele me daria uma muda.
E foi assim que ao longo de muitos dias ele "criou" uma roseira pra mim (eu devia ter uns 10 anos).
ele mostrou-me todas as etapas de um enxerto.
Agora são vagas as lembranças, mas lembro de algumas explicações: do corte em diagonal, a roseira-cavalo e uma serie de palavras novas para meu vocabulário tão parco, na época.
Segui as instruções dadas por seu Osvaldo.
Retirei da lata, plantei-a ao lado da casa. Tendo o cuidado para que a muda não ficasse embaixo da goteira.
E a roseira por muitos anos floresceu. Fizemos muitas mudas.
Plantamos em frente à casa, mas roubaram todas as plantas. ficou somente a roseira original.
É impossível ver a rosa sem lembrar de todas essas histórias...
Ver a rosa e não lembrar da delicadeza do gesto do seu Osvaldo.
Nessas ocasiões reflito o quanto nossos atos refletem na vida de outras pessoas, de forma negativa ou positiva.
Provavelmente, se ele fosse uma pessoa insensível, jamais teria se importado com o fato de uma criança adorar um único pé de roseira no meio de tantos.
Provavelmente, se ele não fosse uma pessoa abnegada, não teria 'perdido seu tempo" para produzir uma muda.
Se fosse uma pessoa egoísta não teria me dado a muda.
Se não fosse uma pessoa que percebesse os outros ao seu redor e não se importasse com o bem estar alheio, essa memória não seria construída.
E não teria a beleza de uma rosa para fazer com que lembrássemos dele.
Vale refletir sobre quais memórias estamos permitindo que as pessoas construam a nosso respeito.
Como nossos atos, no presente, refletirão no futuro?
Que linda esse texto.Memória viva de seu Osvaldo e com certeza um jardim ele cultiva lá no céu,por que seu amor era grande em cultivar as plantas.
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