30 de novembro de 2013

"Um acidente é uma sucessão de erros"

"Um acidente é uma sucessão de erros"
            
            Dizer que é preciso investir em Educação é recorrer ao pleonasmo de chover no molhado. Sou professora na EEB José Boiteux na região continental de Florianópolis há oito anos. A referida escola foi fundada em 1934 e foi uma das primeiras escolas na região continental. Por isso, a escola apresenta dois modelos de construção diferentes: a ala central - construída em 1934 e as alas laterais construídas há cerca de 30 anos, estás últimas mais modernas e muito mais "frágeis". O uso do adjetivo "frágil" é intencional pois a contenção de gastos do poder público - para não mencionar tão pouco ironizar que as fortunas gastas nas construções não condizem com a realidade - mas é visível a incoerência. Não quero mencionar também que a empreiteira responsável pelos reparos (por sinal, a mesma dos últimos anos - não existe concorrência nem mais empresas na Grande Florianópolis?) também faz uso de materiais de qualidade duvidosa e os reparos não são duradouros (ah! Se prestassem serviço para muitos de vocês leitores...). Para não me julgarem mal, vou descrever algumas situações de reparos: a) houve um reparo no telhado e ao final das obras, o funcionário responsável "esqueceu" uma pilha de telhas de barro no telhado; b) após a troca da rede elétrica da ala do 1o e do 2o ano houve um curto-circuíto em uma das salas, a direção chamou o responsável pelo serviço, o mesmo veio até a escola, retirou a parte queimada, deixou os fios se isolamento e não retornou mais. Na primeira situação, o responsável pelo esquecimento veio retirar as telhas, no segundo um pai isolou os fios para evitar um acidente.
            Na início manhã do dia 20/11/2013, sexta-feira, a professora do 2o ano mostrou-me que a forração de PVC do corredor da ala do 1o e 2o estava caindo (lembrando que esta ala foi reformada há cerca de dois anos, após a queda do telhado e do forro da sala do 1o ano, felizmente não havia alunos na sala, era período das férias). Como podemos observar na foto a seguir, o forro não havia despencado ainda, pois havia uma lâmpada segurando-o.


         A sala de Português fica ao lado dessa ala. Em torno de 11 horas estava dando aula para a turma do 7o ano quando ouvi um estrondo, acompanhado de um leve tremor. E o som vinha da ala ao lado. Fiquei aterrorizada, imaginando que o teto teria desabado sobre as crianças e as professoras. Teria acontecido uma tragédia, pois as quatro salas da ala estavam com aulas e todos estavam nas salas. Corri para ajudar. Pois ouvi as vozes alteradas das professoras tentando acalmar as crianças que estavam algumas em pânico e outras alvoroçadas. Ao me aproximar da ala reparei que o forro do corredor estava quase todo no chão (exceto a parte presa pela lâmpada). Inclusive o forro e o telhado da última sala (do SAEDE) estavam no chão, havia uma clareira na sala, pois a árvore (com mais de 50 anos) que ficava atrás do prédio despencara sobre a construção.



                  Conversei com as professoras e tentamos acalmar algumas crianças e de repente nos damos por conta de que a sala do SAEDE que fora atingida pela árvore estava aberta, mas e a professora? A pasta com o notebook dela estava sob a mesa, embaixo dos escombros... 


                   Alguém falou que a professora estava na orientação. Apesar do susto, ninguém foi ferido.

      Após verificar se todos estavam bem, a diretora acionou o corpo de bombeiros que em menos de dez minutos estavam na escola, cortaram os galhos maiores para evitar maiores acidentes, fez a verificação da estrutura e conclui que, com exceção da sala do SAEDE, as demais salas não tiveram suas estruturas danificas, podendo ter aula normalmente. Comunicou ainda que a direção da escola deveria entrar em contato com a prefeitura para retirada da árvore.
       Nas minhas imagens não podemos ter uma dimensão clara do tamanho da árvore, mas na foto a seguir (tirada por um dos moradores do edifício em frente à escola) fica nítido que uma tragédia poderia ter acontecido.



            Agora começa um outro momento... Quanto tempo levará até que a escola seja reformada?
Pois a escola não possui e também não recebe verba para reparos e reformas. Apesar de os últimos governos prometerem que seria implementado um projeto através do qual seria destinada uma verba para pequenos reparos, isso até hoje não aconteceu. Essa questão dos recursos e da autonomia da escola é uma falácia. Por exemplo, a escola não pode arrecadar dinheiro com aluguéis de outdoor, de propagandas nos muros da escola ou até mesmo cobrar um contribuição para a APP, mas a escola tem que pagar todo mês uma taxa no valor de R$ 40,00 para manutenção de conta na qual o governo do estado encaminha os recursos para o pagamento dos funcionários da escola (serventes e merendeiras), tão pouco disponibiliza vale transporte para diretor ou assistente de educação para compra de vale transporte dos funcionários da APP ou para levar documentação à Gerência (isso sai do bolso dos profissionais) - esses funcionários estão em movimentação a serviço do Estado, sem contar que a contabilidade dos recursos da APP deve ser feita pelo diretor da escola (que na maioria dos casos, são professores indicados politicamente para o exercício do cargo de Gestor). 
                 Se fôssemos elencar só as situações que temos de descaso, desperdício de dinheiro público e de favorecimento de empresas, como no caso da merenda e das reformas, já teríamos muitos culpados. Mas o problema é que não são punidos, as situações são denunciadas, mas encobertas e "esquecidas". Enquanto isso alunos, professores e toda a comunidade escolar a cada dia é privada de uma ambiente mais agradável, de recursos, de livros, de saídas de estudo. Sem falar ainda, de quando o o Governo anuncia o famigerado PLANO DE CONTENÇÃO DE GASTOS isso não é resolvido através da demissão dos muitos funcionários fantasmas, ou aqueles que ganham gratificações exorbitantes que estão nas Gereds, nas Secretarias Regionais ou na SED, é a escola é quem paga essa conta: não há reformas, não há produtos de limpeza e higiene (ou conseguem comprar produtos ainda mais baratos e com qualidade duvidosa), não há manutenção de rede hidráulica, elétrica ou de equipamentos. 
              Enquanto a Educação em SC for tratada como palanque político, que após a posse de um novo governador os cargos são rifados, os funcionários do partido anterior são demitidos e os projetos (que estão dando certo) são finalizados e começam outros do nada, da fértil imaginação de quem caiu de pára-quedas no sistema educacional, enquanto for assim nada via mudar. É (quase) tudo política partidária, digo quase, pois temos (poucos) excelentes profissionais de carreira que (tentam) lutam contra a maré. Conseguem realizar muitas coisas. São esses profissionais (professores, técnicos etc) que garantem os parcos resultados positivos que temos na Educação catarinense... E são premiados, mas é o gerente, o supervisor, o secretario e o governador que recebem os louros. 
          Esse meu desabafo é por conta de mais de uma década de Educação em que vi pouca coisa mudar. Mas vi coisas boas acontecerem com o envolvimento de professores e alunos, esses sim fazem a EDUCAÇÃO acontecer, indiferente de partido X ou Y. São eles que realmente estão fazendo melhorias. Imagine se os nossos governantes também quisessem.
        E a reforma da escola? Se não aparecer a notícia na televisão, vai demorar. 
        Quem sabe como da outra vez, a reforma será em fevereiro, junto com o início do ano letivo.
             
              


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