Ao professor Aldo Rottgers Schlickman
Há uma ano perdemos nosso colega de trabalho e professor. Um ano parece pouco. Pois como dizia Paulo Freire a
"Escola é...
o lugar onde se faz amigos
não se trata só de prédios, salas, quadros,programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima."
não se trata só de prédios, salas, quadros,programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima."
E é difícil convivermos com alguém durante tantos anos e não percebermos essa pessoa. Somo seres humanos, sociáveis por natureza.
A minha história e a do meu colega professor teve início no mesmo período. Fomos removidos para a EEB José Boiteux (Florianópolis, SC) no segundo semestre de 2004 (acho, vou conferir o ano). Como fomos os os últimos a chegar só nos restou a ponta da mesa na sala dos professores. É, existia certa hierarquia com quem tinha mais tempo de casa. Então não nos restou outra alternativa, dividíamos a ponta da mesa. Mas isso tornou-se um problema, pois eu - como toda professora de Português - vivia carregada de livros, precisava de muito espaço, mas muito mesmo (quem me conhece sabe). Logo, invadia o espaço do professor. Mas ele não reclamava. A sorte é que o professor era o oposto. Uma pessoa extremamente econômica quanto ao espaço que utilizava da mesa. Ele carregava somente uma prancheta e uma caneta.
Conviveram pacificamente na mesma mesa uma prancheta e muitos livros. Por vezes a prancheta ficava encolhidinha na pontinha da mesa, a ponto de cair, pois os livros iam ano após ano invadindo seu espaço, mas a prancheta nunca caiu. Foi resistente. Sobreviveu. A situação era motivo de piada - por isso a conto aqui. Diariamente era motivo de chacota por parte dos demais colegas.
E por alguns anos foi assim, diariamente (pois trabalhávamos 40 horas).
No entanto, as coisas foram mudando, vários colegas foram saindo (alguns se aposentando, outros desistindo da carreira e outros ainda remanejados para outros setores). Ganhamos mais espaço na mesa, mas sempre recordávamos dessa história e ríamos da situação.
Como sou uma viciada assumida por chocolate sempre que recebíamos algum presentinho de pais ou da escola e era chocolate, eu sempre ganhava mais, pois alguns de meus colegas gentilmente cediam a sua parte para mim - inclusive o professor Aldo.
Foram essas pequenas coisas que também marcam nossa vida como profissionais, pois "o professor é gente" e como gente temos que tornar a escola - o nosso ambiente de trabalho - cada vez melhor... ainda citando Paulo Freire
"E a escola será cada vez melhor
na medida em que cada um
se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém
nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico...
numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz."
se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém
nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico...
numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz."
E na EEB José Boiteux sempre foi muito fácil de trabalhar - temos as nossas diferenças - no entanto, sempre foi característico do grupo de professores se ajudarem, segurarem as pontas, superarem as dificuldades, sempre pensando no melhor para a escola - para os alunos.
Uma das características do professor Aldo foi ser colaborador com todos. Nunca negou-se a ajudar, estava sempre pronto a atender a todos. Em várias situações que muitos colegas tinham algumas dúvidas administrativas relacionadas à profissão o professor recorria a sua esposa - Ana - para obter as respostas. Durante o período no qual trabalhamos na EEB José Boiteux não conheci a famosa Ana. Falo famosa, pois ele sempre falava sobre ela. Ríamos que ele tinha muito medo dela, que até quando contava alguma história era obrigado a falar seu nome. Mas brincadeiras à parte, ele não tinha histórias sem ela. Ela era seu porto-seguro. Achava lindo a forma que ele sempre se referia a ela. Parecia que eu já a conhecia de tanto ouvir sobre ela: sua comida favorita, seus programas, o que gostava ou não gostava.
Mas a vida nos reserva surpresas. Somente em março de 2013, conheci a famosa Ana Beatriz Ghizoni. Quando a vi pela primeira vez, parecia que a conhecia há muitos anos. No entanto, nosso encontro foi numa circunstância difícil. Foi no hospital do HU, na quarto 302. Quando o professor Aldo estava internado, já em uma situação delicada. Mas ela era realmente tudo o que ele descrevera e muito mais. Era uma pessoa batalhadora, companheira, amiga e forte. Muito forte.
Naquele momento entendi porque ela era tão importante pra ele. Eles eram um só, se completavam.
Agora um ano sem ver o professor Aldo caminhando pelos corredores da escola, só nos resta recordarmo-nos dos bons momentos. E pensar que onde ele estiver que esteja bem... Cumpriu sua missão...
Aqui sua música favorita: Wish you were here (Pink Floyd)
Professor, tantos anos dedicados à Educação, às pessoas você conseguiu, certamente, mudar muita coisa.
Mudou pessoas, corações
e mentes. Mas, principalmente, construiu sonhos e edificou realidades.
“Ensinar
é um
exercício de imortalidade.
De alguma
forma
continuamos a
viver
naqueles cujos
olhos
aprenderam a
ver o mundo
pela magia da
nossa palavra.
O professor,
assim, não morre jamais...”
Rubem Alves
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