Vivemos em um momento em que os produtos industrializados ainda tem um "valor" cultural agregado para muitas pessoas. Na verdade, está mais para status social. Um pacote de bolacha recheada é esteticamente mais apresentável do que uma fruta. É a "moda". Estamos sendo obrigados a ressignificar nossa relação com os alimentos, com o que é saudável.
Como professora e mãe tento sempre transmitir a mensagem do quanto mais natural, mais saudável. Mas não é uma tarefa simples. Concorrer com as propagandas e as grandes indústrias é uma luta injusta. Concorrer com a falta de espaço para produzir os próprios alimentos, a correria do dia-a-dia. A falta de tempo. Contudo, temos nossas vitórias! Mais e mais vemos nos grandes centros associações com o intuito de financiar e adquirir alimentos direto dos produtores. Hortas comunitárias, nichos de economia colaborativa etc Resistir é um lema. Mas resistir não só por resistir, resistir para ter uma vida mais saudável, resistir para ver nossas crianças conscientes sobre o que consomem e das escolhas que fazem e que o alimento representa em nossa cultura.
O que representa a família envolver-se no preparo de uma refeição e depois sentar-se à mesa e compartilhá-la!
Que sentido tem isso?
Quais os sentimos que afloram?
Que memórias são produzidas?
Quais as lembranças que ficam?
Certamente, enquanto leem devem lembrar de alguém com quem vivenciaram isso. Ajudando a mãe ou o pai a preparar uma refeição.
Agregamos muitas memórias positivas ao longo da vida e que estão relacionadas à comida.
Bem, essa conversa toda é uma introdução ao que realmente quero falar: minhas memórias da infância.
Minhas memórias de infância estão muito ligadas à comida. E é muito fácil observar isto. Dependendo da família que se vem...
Não era um hábito os pais pegarem as crianças no colo e dizerem que as amavam, mas era comum vê-los fazerem comidas para agradar quem amavam.
Hoje, consigo perceber isso claramente. É uma forma de amor e de amar.
Quando visito minha avó, normalmente (se não era muito quente) ela fazia (e ainda faz) uma sopa de legumes com frango.
Ou ainda rosquinhas de polvilho. Sempre tinha um potinho cheio.
Fonte da imagem: internet.
Minha mãe a cada almoço faz as comidas preferidas dos filhos, das noras ou dos netos, depende de quem anunciou anteriormente do que estava com saudade de comer: sopa de leite, macarronada, nhoque, arroz, feijão, mandioca (aipim) com carne de porco e a minha favorita: polenta com leite.
Explico não é a polenta feita com leite. Faz-se a polenta como de costume (em panela de ferro e no fogão à lenha) depois coloca-se um pouco de leite em um prato e um pouco de açúcar e é só comer. Uma delícia! O melhor ainda é comer a rapinha na panela. Minha mãe faz a polenta em panela de ferro (é a tradição) e depois de tirar a polenta fica uma casquinha, então é só colocar leite e a casquinha solta e está pronto!
Fonte das imagens: Internet
Quando vamos visitar alguém é muito comum sermos recebidos com Cuca e com bolachas pintadas. É tradição! Alimentos acompanhados com chimarrão!
É uma ofensa recusar! Aliás é impossível.
É tudo tão saboroso e oferecido com tanto carinho que aceitamos.
Contudo, quando éramos crianças éramos "ensinados" a não pedir comida na casa dos outros e também não podíamos aceitar. Era uma tortura dizer não. Mas para nossa sorte, as pessoas sempre insistiam muito e nos obrigavam a comer, mesmo sob os olhares fulminantes e intimidadores das mães. As pessoas diziam: Ah! Só uma, coitadinho(a). Ficar tanto tempo sem comer nada! É criança.
Estávamos salvos de ficar sem comer e dos olhares das mães. As anfitriãs eram mágicas.
Enquanto escrevo consigo, mentalmente, (re)lembrar a forma que sou recebida em cada pessoa que visito ou que visitei e o quanto a minha lembranças das pessoas próximas estão relacionadas a essa forma de demonstrar o quanto se gosta e se quer bem a outra pessoa. é uma declaração de amor e afeto sem palavras.
Aliás essa não é uma situação isolada, em muitas culturas é uma tradição: receber a pessoa com algo que você fez. É a prova de apreço pelo outro.
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