Pois só por essa informação e pelas imagens já teríamos fatos suficientes para um parecer. Mas o que me deixou estarrecida foram os comentários que se seguiram e informações que foram acrescentadas e compartilhadas sem serem averiguadas. Como na brincadeira do telefone sem fio.
Quanto a produção de materiais didáticos concordo que há materiais e materiais. E que há muitos poderes que se atravessam desde a produção inicial com o escritor ou a equipe de produção até chegar aos professores e como este trabalhará o material com os alunos.
E do ponto de vista de quem produz material didático fico intrigada, pois para encaminharmos um exemplar para a análise do MEC o material deve contemplar conteúdos, temas transversais, ou seja estar de acordo com os PCNs e outros documentos que regulam o sistema educacional. Do contrário, nem será encaminhado para a análise.
Temos o sistema de ensino público e o privado de ensino. Em regra, ambos teriam as "mesmas obrigações". Contudo...
1. Sistema público:
Sabemos que no sistema público, por vezes, existe a pressão para a compra de materiais didáticos de grandes editoras, mas que nem sempre sobrevivem ao crivo dos técnicos que fazem a análise dos livros didáticos e, consequentemente, não são adotados pelos professores nas escolas. SÃO OS PROFESSORES QUE FAZEM AS ESCOLHAS, dentre os selecionados e indicados pelos técnicos responsáveis pelas análises (indiferente de quem está no comando do país). A análise do material didático de cada disciplina é feita pelas Universidades Federais, através de uma chamada pública. A Universidade lança um edital para selecionar os professores que farão a análise dos livros didáticos e produzirão o Guia para ajudar o professor na escolha.
Você pode ver o resultados das análises na página do PNLD - MEC.
Veja como os professores procedem na escolha dos livros didáticos: GUIA DE ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO.
No Guia de escolha do material didático há resenha de cada livro, por disciplina e por série, apontando aspectos positivos e negativos da obra. Cabendo, portanto, ao professor ler essas resenhas, analisar o material e proceder a escolha (podendo escolher até dois títulos).
Depois da escolha do professor, o MEC faz a compra dos livros, baseando-se no número de alunos do ano anterior. Em seguida, os Correios fazem a distribuição para as escolas.
2. No sistema privado a escolha é feita pelas escolas - sem necessariamente - o material passar pelo MEC. Tanto que grandes editoras produzem o mesmo livro, mas com editoração (e preço) diferenciado para as escolas particulares. Inclusive, algumas delas produzem o próprio material didático.
Se, mesmo com uma equipe para analisar um livro didático é passível de erro, o que aconteceria se não houvesse uma análise no material?
Toda essa minha explanação preliminar é uma tentativa de explicar que, por conta das escolhas partidárias de algumas pessoas, elas usam de má fé para denegrir um trabalho árduo, competente e que a duras penas tem tentado estabelecer políticas públicas educacionais realmente preocupadas com a qualidade do ensino público. Essa minha ressalva não é para a presidenta A, o presidente B ou C. É para uma equipe de professores do país inteiro que batalha e muito pela educação. E, que por conta de oportunistas, vêm seu trabalho sempre executado de forma seria e coerente posto na sarjeta.
As imagens a seguir viralizaram pela internet e a cada compartilhamento era acrescidas de informações, sem contudo, verificar as fontes.
Vejam: :
Primeira postagem:
"DOUTRINAÇÃO IDEOLÓGICA PETISTA para nossos FILHOS!!!
OLHEM OS TRECHOS::::
"as FARC, que lutam por uma sociedade mais justa e sem tamanhas desigualdades sociais."
Minha observação: (FARC = Grupo Terrorista Colombiano que vende Cocaína)
Confira se teu filho não está estudando com este Livro Escolar..."
Fui pesquisar o que era as FARC e a definição que encontrei foi
" Criada em 1964, pelo ex-combatente liberal Pedro Antonio Marín, também conhecido como Tirofijo, as Farc surgiu como um grupo de cunho marxista-leninista, atuando no meio rural e adotando táticas de guerrilha. Essa organização tem como discurso ideológico a implantação do socialismo na Colômbia, promovendo a distribuição igualitária de renda, a reforma agrária, o fim de governos corruptos e das relações políticas e econômicas com os Estados Unidos, entre outros aspectos sociais."
(Fonte: http://www.brasilescola.com/historia/farc.htm).
O discurso ideológico em sua criação era realmente "estabelecer uma sociedade mais justa". Contudo, distanciou-se muito do que se propunha inicialmente. Mas isso é outra questão.
Fonte das imagens: Facebook - ID 122807377823217&story_fbid=768401469930468
Fonte da segunda imagem: Facebook (em um comentário)
Segunda postagem, com o compartilhamento somente da primeira imagem
Uma segunda pessoa compartilhou essa informação (que já foi retirada do ar) e acrescentou:
"(...) jamais esperaria que um livro de geografia, feito pelo governo federal, do MEC, preparasse para o próximo ano (2016) um livro que defenda as FARC na Colômbia para os jovens na escola.
Ou seja, uma organização terrorista, que usa o tráfico de cocaína, principalmente para o Brasil, para se suster, que matam e sequestram pessoas, que mantém a escravidão nas plantações de coca na Colômbia, agora, nos livros de geografia lançados pelo MEC para 2016, é considerada uma organização heróica que luta pela desigualdade social... Emoticon unsure
Conclusões/explicações/suposições:
1. O livro apresenta falhas na construção textual para explicitar o que é as FARC. Faltou revisão.
2. O livro não está indicado pelo MEC para 2016 (encontrei somente disponibilizados as escolhas para o ensino fundamental I, caso alguém tenha essa informação, por gentileza)
Fonte: Guias do PNLD 2016
3. Nas pesquisas que efetuei, encontrei que o material realmente existe, foi produzido pela Editora Totem, como consta na imagem II, no entanto, não verifiquei se o número de registro do material realmente existe.
4. O material didático da editora destina-se ao Enem e ao EJA e não é disponibilizado na página da Editora Totem, somente para compra.
5. O material não foi disponibilizado pelo MEC. Não há indícios nem na capa, nem na folha de rosto. Pois ser aprovado pelo MEC é uma propaganda que as editoras consideram muito.
7. Se o material não foi distribuído pelo MEC, logo não é escola pública (em tese). Poderiam haver exceções, mas pensando na estrutura que conheço, acho difícil, mas...
8. Não encontrei (não estou dizendo que não existam) materiais de análise do livro dessa editora pelo MEC.
Ressalva: caso tenham alguma informação, por gentileza, repassem para fazer a correção.
Depois de tudo o que li, acho que o erro maior foi de quem publicou de má fé essas informações. Fez uma estrago muito maior. Envolveu pessoas e entidades - falo aqui das pessoas envolvidas na análise dos livros didáticos -. Seria bem mais simples, entrar em contanto com a editora - que tem site disponível, informando-a do erro. O dano teria sido menor.
Pois as mensagens que se seguem aos compartilhamentos são aterradoras.
Após minha pesquisa e tudo o que li nos comentário, a editora teve uma falha na construção (ou revisão). Não significa que o professor em sala tenha seguido essa informação literalmente.
As informações retiradas de seu contexto, agregam valores, sentidos e intenções, nem sempre condizentes com o aquelas originárias em seu meio de produção.
Pois as mensagens que se seguem aos compartilhamentos são aterradoras.
Após minha pesquisa e tudo o que li nos comentário, a editora teve uma falha na construção (ou revisão). Não significa que o professor em sala tenha seguido essa informação literalmente.
As informações retiradas de seu contexto, agregam valores, sentidos e intenções, nem sempre condizentes com o aquelas originárias em seu meio de produção.
Quem seleciona os livros que entram no Guia do Livro Didático?
ResponderExcluirA Secretaria de Educação Básica do MEC convida universidades públicas de notório saber na análise de livros didáticos, em cada área do conhecimento. Cabe a elas organizar equipes de pareceristas, formadas por docentes da educação básica, com qualificação mínima de mestrado, e pesquisadores e professores universitários, com comprovada experiência acadêmica, didática e pedagógica. Cada obra é avaliada por pelo menos dois pareceristas; caso não haja consenso, ela é submetida a um terceiro. Dependendo dos temas tratados e das especialidades envolvidas, o mesmo livro é submetido a outros pareceristas especialistas em outras áreas do conhecimento.
Nessa avaliação, além dos critérios específicos para cada área, são definidos como critérios comuns de exclusão:
correção de conceitos, informações e procedimentos propostos como objetos de ensino e aprendizagem;
coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pela coleção, no que diz respeito à proposta didático-pedagógica explicitada;
adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático-pedagógicos da coleção;
observância das características e finalidades específicas do manual do professor;
respeito a preceitos legais e jurídicos, bem como a princípios éticos necessários à construção da cidadania.
No escopo desses critérios comuns de exclusão é, também, fator determinante para eliminação de uma determinada obra ou coleção aquela que, nos termos do Edital:
veicular preconceitos de condição social, regional, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual ou de linguagem, assim como qualquer outra forma de discriminação ou de violação de direitos;
fazer doutrinação religiosa ou política, desrespeitando o caráter laico e autônomo do ensino público;
utilizar o material escolar como veículo de publicidade ou de difusão de marcas, produtos ou serviços comerciais.
Além disso, é importante considerar que existem os critérios de avaliação específicos das áreas do conhecimento. Estes critérios representam o patamar de qualidade exigido das obras inscritas no PNLD. http://portal.mec.gov.br/par/132-perguntas-frequentes-911936531/livro-didatico-1799853147/160-quem-seleciona-os-livros-que-entram-no-guia-do-livro-didatico