E após histórias e mais histórias a discussão emperrou em um ponto:
A mulher que foi vítima de um estupro tem direito ao aborto?
Nesse momento, não estávamos questionando a legislação ou o que especialistas afirmam, era uma conversa via senso comum - puro achismo e percepções individuais.
Parte do grupo posicionava-se favorável ao aborto (em sua maioria mulheres), outros defendiam que a mulher deveria gerar esse filho e o Estado se responsabilizaria pela criança e/ou o disponibilizaria para adoção.
Filhos do estupro - Lei do Nascituro
E não havia consenso, nem argumentos suficientes para a discussão avançar.
Então procuramos um dado: Quantas mulheres que são violentadas e decidem ter o filho?
Fomos à pesquisa. Em um hospital da rede pública de saúde que faz o procedimento de interrupção de gravidez em casos de estupro, desde 1998 destacou que é realizado, no mínimo um procedimento por mês e que, de 1998 até agora somente quatro mulheres decidiram ficar com o bebê. As demais mulheres se quer queriam ver a criança.
Diante deste dado e ainda nenhum consenso alguém favorável ao aborto disse:
"É fácil vocês, homens, falarem sobre continuar uma gravidez cujo fruto foi concebido de forma tão violenta. Se mesmo quando estamos grávidas por opção esse não é um período fácil. É muito estressante. Imagine em uma situação dessas".
Então fomos à pesquisa de depoimentos/relatos de mulheres que foram violentadas e o que representava a gravidez para elas.
O primeira reportagem que lemos foi:
Revista Marie Claire - Os filhos do estupro ter ou não ter?
O primeiro depoimento é de uma mulher de 40 anos que foi violentada quando voltava do trabalho:
Nunca tive dúvidas em relação a esse aborto. Não pensei em nenhum momento em ter aquele filho, nem consegui pensar naquilo como uma criança. No dia da cirurgia, chorei muito, mas de raiva por tudo o que tinha me acontecido. Não desejo isso para ninguém. Em junho do ano passado, eu estava sozinha em um ponto de ônibus no Capão Redondo (periferia de São Paulo), voltando do serviço. Eram quase 11 horas da noite, quando parou um Fusca velho no local e de dentro saiu uma pessoa com uma touca tampando o rosto. Era um homem, que usava uma jaqueta de couro. Ele me apontou um revólver e me forçou a entrar no carro. Não sei para onde me levou. Só me lembro que pegou uma estrada e que parou em um lugar escuro, tipo um matagal.
Em seguida a reportagem apresenta outra hitória de uma mulher que foi violentada, mas que decidiu por ter o filho.
Em seguida lemos outra reportagem:
Como carregar o filho de um monstro?', diz mulher estuprada
"Gravidez fruto de estupro é segunda violência à mulher, segundo especialistas, muitas não criam vínculo com o bebê e sentem horro ao imaginar que estão carregando um filho do estuprador"
E as opiniões favoráveis ao aborto permaneciam inalteradas e, os homens que defendiam o que a mulher tivesse o filho, após ouvir relatos tão carregados de dor, foram percebendo como é fácil tomar uma decisão quando não sabemos do sofrimento alheio.
Contudo, continuamos a ler os depoimentos:
"Sou fruto de estupro e a favor do aborto"
Em outra reportagem ainda os dados são alarmantes
"A esmagadora maioria das vitimas de estupros são mulheres, segundo dados da Organização das Nações Unidas, um quarto de todas as mulheres do mundo são estupradas pelo menos uma vez na vida. Estima se ainda que esse crime acometa 12 milhões de mulheres em todo o mundo a cada ano, o que caracteriza este crime como violência de gênero, onde a mulher é considerada propriedade ou posse vulnerável dos homens.
- Nos Estados Unidos o calculo fala de 680 mil estupros;
- No Brasil são 8,7 estupros por 100mil habitantes, segundo dados das Secretarias de Segurança Pública." Fonte: https://feminismosemdemagogia.wordpress.com/2013/07/07/sobreosfilhosdoestupro/
"O hospital Pérola Byington, referência em São Paulo no tratamento de mulheres vitimas de violência sexual, contabiliza que 43% dos atendimentos diários por lá, trata se de meninas com menos de 12 anos, que engravidaram em decorrência de estupro."
Fonte: https://feminismosemdemagogia.wordpress.com/2013/07/07/sobreosfilhosdoestupro/
E a essas meninas? Qual o futuro que é reservado a elas?
Por fim, depois de ler tantos depoimentos a conclusão foi unânime. Precisamos sentir a dor do outro para entender. Ter sensibilidade. Pois,
"Só quando se sente na pele o dor do outro passa se a compreender que não é uma simples escolha, chegar lá e abortar, é um ato desesperado, é desejar retirar de si mesmo, tudo que aquela violência deixou, qualquer marca, qualquer lembrança, e se para isso for necessário um procedimento de remoção intrauterina destas lembranças, que seja feito. A pesquisadora Daniela Pedroso relata que a maior parte dos casos o método indicado para retirada do feto é aspiração intrauterina porque é mais rápida. Raramente a cesárea é indicada, e só seria realizada em casos de pacientes que apresentem 22 semanas de gestação. Caso ela tenha mais que 22 semanas de gestação, o aborto não é realizado.
Nos casos em que o aborto não é realizado, a assistente social Irotilde do hospital Jabaquara relata que “É traumático, elas não vêem a hora de a criança nascer e vão embora sem nem olhar para o bebê”. Fonte: https://feminismosemdemagogia.wordpress.com/2013/07/07/sobreosfilhosdoestupro/
Mas e o direito à vida do feto? E o direito da mulher?
São questões polêmicas, pois envolvem mulheres vulneráveis, crenças religiosas, questões de saúde pública e a subjetividade de cada indivíduo.
E você? Qual a sua opinião?
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