27 de julho de 2016

"Ah, eu quero ser o banco dessa bicicleta!"


Acredito que a maioria das mulheres se sente extremamente desconfortável ao ter passar em frente ao uma oficina mecânica ou uma construção devido "as cantadas".
A cantada, na maioria das vezes, não é encarada como um elogio. Pelo contrário, é ofensiva, desrespeitosa e constrangedora. E as mulheres raramente sentem-se empoderadas para reagir e responder o quão inadequadas são as "cantadas". O medo é uma das primeiras sensações que se apoderam das mulheres e por estarem em uma situação de vulnerabilidade não conseguem ter uma reação.
Mas há situações que surpreendem e colocam o homem em outro patamar. Como no caso da personagem da história a seguir.
Em uma cidade do interior uma menina - aparentando vinte anos - costumava ir para o trabalho de bicicleta. Adorava andar de bike, a liberdade, o vento batendo no rosto eram sensações indescritíveis.
Para chegar até o trabalho tinha uma rota mais rápida e com o terreno menos acidentado, contudo passaria em frente da oficina mecânica do Coelho. Odiava aquele trecho, pois costumeiramente era importunada. Eram assovios, gritos, convites, palavras chulas e ofensivas.
Muitas vezes, saia de casa, apressada e quando percebia estava automaticamente naquele caminho. Ao avistar a oficina já cerrava os punhos e apertava o maxilar, o coração disparava e um misto de raiva e medo tomava conta dela. Não eram suas roupas, pois na maioria das vezes estava de uniforme, ou no inverno com roupas pesadas para suportar as baixas temperatura. Era simplesmente pelo fato de ser mulher.
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Por várias vezes, segurou-se para não gritar com aqueles seres truculentos que tal qual um bando de abutres estavam a espreita da vítima.
"Uma manhã de folga de meu trabalho, combinei com uma amiga para passearmos. Para chegar na casa dela o caminho passava inevitavelmente pela oficina do Coelho.
Mas estava tão ansiosa pelo passeio que esse detalhe foi apagado da minha mente.
Era verão, um calor escaldante. Coloquei uma bermuda, uma camiseta leve, tênis e um boné para não ficar com o rosto queimado.
Peguei minha garrafinha de água, enchi e a coloquei na mochila. Tudo pronto, peguei minha bike e fui pedalando em direção à casa de Samara.

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Fonte da imagem: MUNDO BOA FORMA

Pedalava distraída, perdida em meus pensamentos. Viajando no tempo nem me dei conta que estava próxima da oficina. Fui acordada de meu devaneio quando ouvi os primeiros assovios e a fala mais alta de alguém "lá vem aquela gostosa de bike".
Fiquei nervosa e indecisa entre um misto de retornar e encarar aquele bando de otários.
Mas decidi continuar pedalando, fingindo não perceber nada.
Mas essa minha tentativa não durou muito.
Eis que ouço uma das vozes masculinas gritar
"AH, COMO EU QUERIA SER O BANCO DESSA BICICLETA".

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Por uma fração de segundos fiquei sem reação. Depois fui tomada por uma tristeza e uma sensação de impotência profunda. As lágrimas teimavam em descer pelo meu rosto. Senti-me sozinha e abandonada. Mas subitamente senti meu copo se aquecer, um sentimento de raiva tomou conta de mim.
Fui tomada por uma força que desconhecia.
Então decidi que tinha que fazer algo.

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Parei minha bicicleta. Apoiei meu pé esquerdo no chão, virei o rosto para os homens que estavam parados em frente a oficina. Fuzilei com os olhos o desgraçado que havia dito aquilo pra mim. Ele ria, um riso solto, escrachado. Puro deboche.
Estufei o peito, empostei a voz, encarei o troglodita e vociferei:
"SE TU FOSSE O BANCO DA MINHA BICICLETA EU IA TE DAR UM PEIDO NA CARA".
Involuntariamente, ao ver o poder sumir do rosto daquele troglodita, dei uma gargalhada e continuei o meu caminho.
Fui apossada de uma alegria e um misto de orgulho de mim que nunca havia sentido. Fiquei espantada comigo. E me senti imensamente feliz.
Acho que isso é o sentimento de uma mulher que sabe da força que tem.
E continuei meu caminho...

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