Não é somente minha bolsa, mas outra com livros, apostilas, caderno, lanche, agenda, garrafa de água, lanche, sombrinha e sempre um casaquinho. Normalmente, levo ainda mais uma bolsa pois aproveito para entregar uns produtinhos da Natura.
Decididamente precisava de uma mochila. Estava pensando em comprar, mas resolvi economizar e utilizar uma que já tinha na loja.
Um tanto fofinha, mas tudo bem.
Com ela resolvi o problema da bolsa e da outra sacola com os livros, desse modo as mãos ficavam livres. Para, principalmente, se segurar no ônibus, pois dependendo do horário é impossível achar um lugar para sentar e os motoristas resolvem não aliviar nas curvas e nas frenagens.
Por conta de sacolas, objetos, pisões, empurrões o bate-boca entre os passageiros é corriqueiro. Na semana passada, duas mulheres que estavam em pé no corredor bateram boca por conta de uma delas estar com a mochila nas costas o que incomodou a outra passageira. xingou a dona da mochila de mal-educada pra cima por conta de não tê-la tirado das costas. Presencie o incidente. E Pensei "ainda bem que estava sentada".
Hoje, voltando da UFSC o incidente foi comigo.
Ao chegar ao terminal centrar para pegar o ônibus para o continente não havia mais lugares vazios, por isso acomodei-me no corredor. O coletivo foi enchendo, enchendo e enchendo mais ainda. Estávamos como sardinhas.
O ônibus pôs-se em movimento e eu, de costas para a porta e com a mochila nas costas, estava distraída lembrando que havia marcado uma visita ao oculista e tentava lembrar o dia. Perdi meu raciocínio ao tentar decifrar em qual idioma estavam se comunicando um grupo de haitianos que estavam às minhas costas. Percebi que havia alternância entre o francês, o crioulo e o português. Estava perdida em meus pensamentos quando o ônibus fez uma curva fechada e a minha mochila encostou em alguém as minhas costas. Imediatamente, lembrei-me do incidente da semana anterior e rapidamente retirei a mochila das costas. Intimamente, me senti envergonhada por não ter pensado nos outros.
Normalmente as pessoas retiram a mochila das costas ao passar pela catraca. Como havia esquecido?
Enquanto retirava a mochila, reparava que a ponte Hercílio Luz estava no escuro.
Mas assim que retirei a mochila das costas e a pendurei em um dos braços, colocando um pouco mais a frente para não bater na moça que estava ao meu lado, tampouco na senhora sentada a minha frente, ouvi alguém falando:
"Não precisa colocâ a mochila pra frente! Ninguém aqui vai robâ nada da senhora. Somos negros, mas somos honestos".
Por uma fração de segundo, não entendi o que estava se passando. Ainda estava olhando a ponte. Quando olhei para a direção da voz - me assustei, pois não era mais a moça que estava lá. Estava em pé, ao meu lado direito, um senhor que me recriminava por ter retirado a mochila da costas.
Justifiquei pra ele que o fizera, pois na semana anterior assistira uma discussão justamente por um dos passageiros não retirar a mochila das costas.
Ao perceber o olhar irônico dele e o sorriso descrente ante ao que eu falara, senti o sangue ferver. Ia retrucar, mas percebi de que não adiantaria. Imaginei quantas vezes ele fora injustiçado. E para ele, sem dúvida nenhuma, eu desconfiava dele.
Então, decidi mostrar a ele, na prática como uma mochila é incômoda. Peguei a mochila do chão e com muita dificuldade recoloquei-a nas costas.
Para não atrapalhar o grupo do corredor, virei-me um pouco a direita. Com o movimento do ônibus, percebi que por várias vezes a mochila batera nele. Quase chegando ao lugar que iria descer, virei-me pra ele e disse:
"O senhor percebeu o quanto a mochila atrapalha os outros?
E se o senhor olhar a volta verá que todos que têm mochila estão com ela na mão e não nas costas. Esse é um hábito comum no ônibus.
Além do mais, por acaso o senhor me conhece para me acusar assim?
Nem eu o conheço para desconfiar do senhor."
Ficou um climão no ônibus. Ninguém falou nada, somente olhares pra um e outro.
Então falei a ele que sentia muito que ele achasse que todas as pessoas fossem preconceituosas, mas que eu, felizmente não era.
Ele, gentilmente, pediu desculpas. E eu também. Pronto. Incidente resolvido.
Mas o meu mal-estar não passara. Eu continuava me senti muito mal por alguém que não me conhecia me acusar de ser preconceituosa: "Logo eu????".
Por outro lado, uma das frases que ele dissera junto com o pedido de desculpas ficava martelando "Dona, a gente vive isso todos os dias".
E, se eu que fora jogada na vala comum dos preconceituosos me senti injustiçada e quis me defender.
Imagine quem sofre a discriminação e o preconceito todos os dias?
Não à toa vive na defensiva.
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Trancafiados em nossa gaiolas mentais acabamos ficando absortos e vivendo de pensamentos e imagens de nós e dos outros...As vezes,a presença do outro é ameaçadora ou liberamos o chacal interno ou recorremos a civilização e a empatia ...você recorreu a estas últimas...
ResponderExcluirObrigada! Realmente, não temos outras alternativas. Mas o estranhamento foi justamente perceber que (por um ato impensado) a interpretação das nossas atitudes pelas pessoas que estão a nossa volta dizem algo sobre nós que não expressa a realidade do que realmente somos.
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