2 de maio de 2020

Ser Gestor em tempos de pandemia: "Tudo que é sólido de desmancha no ar!"

Assumi a Gestão de uma escola da rede estadual de ensino em janeiro deste ano (2020). A escola tem cerca de 500 alunos e 40 profissionais em seu quadro. Uma escola de porte médio, situada na região continental do município de Florianópolis.
Ser gestora engloba um universo muito diferente do contexto da sala de aula. Mesmo para mim, conhecedora da realidade da escola.
No início, muitos desafios. Mudanças de legislação e direcionamentos quanto à contratação, matrícula e uma serie de demandas inerentes a parte administrativa da escola e pedagógica.
Outro desafio, pensar e elaborar estratégias para a área pedagógica, tendo em vista o Plano de Gestão elaborado para o período de 2020-2023. Além disso, ainda tinha a implementação da BNCC e do Currículo Base do Território Catarinense. Como dar conta de todas essas demandas?
Elaborei um plano de ação para aspectos que tinha conhecimento o suficiente para atuar e para aqueles aspectos que não tinha segurança procurei ajuda de pessoas competentes para elaborar estratégias de ação.
No entanto, modelos não podem ser transplantados de uma comunidade escolar para outras, mas a troca de experiências entre pares e o apoio da comunidade escolar foram determinantes para que ao final de fevereiro a escola estivesse "andando nos trilhos".
Em um final de tarde, eu e a assessora conversávamos que, finalmente, a escola estava em ordem.
No entanto, eis a grande surpresa!
Em 13 de março, rumores sobre a possibilidade do fechamento das escolas devido ao avanço do Covid-19. E em 16 de março, o decreto municipal N. 21.347 suspende as aulas. 
E agora? O que fazer??? Como proceder???
As informações são desencontradas, muitas especulações. 
Atendemos os alunos no dia 16 e informamos sobre a situação. Enquanto aguardávamos novas informações da Coordenadoria e da Secretaria Estadual de Educação.
A situação foi se delineando e, por fim, 19 de março as aulas foram suspensas definitivamente na rede estadual de ensino por tempo indeterminado. 
Mais uma vez a insegurança e a sensação de impotência ante ao desconhecido.
Com toda a escola parada, aguardávamos os que seria feito a seguir.
As informações foram chegando...
Antecipação do recesso escolar...
Formação continuada...
Enquanto isso, mobilizamos a comunidade escolar e começamos a criar grupos de whatsapp para cada turma. E assim, aos poucos, fomos organizando os alunos em turmas no zap.
A SED agilizava os passos seguintes. A implementação de atividades não presenciais.
Nesse momento, já tínhamos contatado a maioria dos alunos.
Assim, quando finalizou-se a inserção dos alunos no Google Class, já tínhamos como transmitir essas informações aos alunos e encaminhá-los ao Google Class. Pronto! Mais uma situação resolvida.
Aparentemente!
Para nossa surpresa, somente 30 por cento dos alunos tinham condições para acessar a plataforma do Class room.
E agora? Como garantir acesso a quem não tem? Como distribuir atividades impressas e solicitar a presença dos responsáveis à escola em tempos de isolamento social?
Uma forma de minimizar a movimentação dos responsáveis foi disponibilizar as atividades aos alunos via plataforma Whatsapp.
Dessa forma tínhamos um grupo com internet banda larga acessando o Class,
alunos com dados móveis recebendo as atividades em PDF ou Google Docs via zap e
alunos sem internet vindo retirar atividades impressas na escola.
Nos grupos do zap, todos os professores disponíveis para ajudar os alunos e esclarecer dúvidas.
Nesse percurso de muitas dificuldades para todos o que mais motivou foi o engajamento do grupo de professores. Eles foram incríveis, mobilizaram os alunos, se ajudaram, não mediram esforços para que os alunos tivessem acesso às atividades.
O fator humano - a empatia - preponderou sobre todas as outras coisas.
Apesar do momento tão inseguro, me senti segura pelo apoio do grupo de professores, de pais e dos alunos.
É claro que desafios existem e nem tudo são flores... 
Há professores sem as condições tecnológicas para desenvolver um trabalho adequado...

Há alunos que também não têm recursos tecnológicos, há outros que se recusam a fazer as atividades...
Há pais que não tem como ajudar os filhos...
Há pais que não colaboram e se omitem de seu papel em apoiar a Educação...
Há a sobrecarga de trabalho... 
Há muitas outras situações e problemas que nos desafiam diuturnamente.


No entanto, em tempos de pandemia ser gestor de uma "escola virtual" que sobre ela não há relatos, não há experiências a seguir, não há modelos ou caos de sucesso. Não há artigos...
Esse "escola em tempos de pandemia" nunca existiu....
O que nos resta então? 
Nos resta "criar" um modelo e experienciá-lo a cada dia.
Analisando acertos e os perpetuando e percebendo erros e os corrigindo.
Reinventando-se e, acima de tudo, mesmo que em uma situação tão adversa garantindo educação de qualidade aos nossos alunos. Prova disso, foi o empenho dos professores, participaram das formações, 
estão aprendendo a superar o medo pela tecnologia, aprendendo a utilizar recursos tecnológicos
eu não diria reinventando-se, eu diria aprendendo e como dizia Cora Coralina "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". 
Gratidão é que tenho pelo meu grupo...
Grupo que foi fundamental para que construíssemos "uma escola virtual" em tempos de pandemia.

" A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria." (Paulo Freire).

E citando o título icônico do livros de Marshall Berman "Tudo que é sólido se desmancha no ar", A escola como a conhecíamos se desmanchou no ar e, agora?  



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